O próprio governador Eduardo Leite reitera, desde o ano passado, que a grande prioridade de seu segundo mandato será a educação. Cria-se a expectativa, portanto, de que o Piratini consiga de fato avançar nesta área essencial para o desenvolvimento potencial do Estado nas próximas décadas. Uma das principais frentes é a expansão do número de escolas com turno integral. A grande promessa é levar a modalidade à metade da rede no Ensino Médio até 2026.
O nível de aprendizado está diretamente relacionado a melhores oportunidades no mercado de trabalho
Levando-se em consideração o desempenho recente, não será uma tarefa fácil. Afinal, um dos pré-requisitos é ter colégios com infraestrutura adequada para receber alunos pela manhã e à tarde, com quadras de esporte, refeitórios com capacidade e boas condições e outros espaços para demais atividades complementares. A dificuldade em tocar obras em escolas, causada pelas amarras da burocracia, foi uma das frustrações do primeiro mandato de Leite. Para chegar ao objetivo, até 2026 teriam de ser 459 estabelecimentos com turno e contraturno. A meta atual do Piratini é acrescentar 67 neste ano, chegando a 111 ao final de 2023. Observe-se que, no encerramento do ano passado, o governo chegou a projetar 140 escolas até dezembro deste ano.
Números e objetivos de curto prazo à parte, o essencial é que, com essa iniciativa, o Estado vai na direção correta. Não há contestação de que estudantes em turno integral têm melhor desempenho escolar. E o nível de aprendizado está diretamente relacionado a melhores oportunidades no mercado de trabalho ao longo da vida adulta. Há outro aspecto relevante a considerar. O Rio Grande do Sul é a unidade da federação em que a transição demográfica ocorre de forma mais acelerada no país. Com a população envelhecendo, já ensinaram os países desenvolvidos, o progresso está intimamente vinculado à capacidade de o capital humano ser mais produtivo. Apenas uma absorção consistente de conhecimento, com a aquisição de mais habilidades e capacidades de inovar e de acompanhar a evolução frenética da tecnologia, dá garantias de uma preparação adequada para a jornada profissional.
Aguarda-se, agora, que as medidas planejadas pelo governo para elevar a quantidade de escolas de tempo integral caminhem a contento. Entra elas, a reorganização interna das secretarias de Educação e Obras para dar mais agilidade nas reformas nos prédios. Será necessária ainda a contratação de mais professores, o que está no horizonte da administração estadual, além do reajuste da bolsa do programa Todo Jovem na Escola, voltado ao combate à evasão no Ensino Médio.
Espera-se ainda que as famílias e os jovens matriculados nas escolas que poderão receber o turno integral compreendam a importância da modalidade. É sabido que, nesta idade, muitos estudantes optam também por começar a trabalhar enquanto estudam, muitas vezes para ajudar a família a fazer frente ao custo de vida. É preciso, no entanto, ter consciência de que uma formação mais sólida significa melhor renda no futuro. Em um cenário ideal, a economia brasileira também entraria em um período de crescimento mais consistente, levando os responsáveis por estes alunos a ter condições de sustentar o lar sem dificuldades, permitindo aos adolescentes postergar o ingresso no mercado de trabalho. Cabe agora à sociedade acompanhar a evolução dos planos do Estado e cobrar que as metas sejam alcançadas.