Por Daniel Randon, Presidente das Empresas Randon e do Conselho do Transforma RS
Gerenciar recursos que contemplem, simultaneamente, a responsabilidade fiscal e social é o maior dos desafios do próximo governo. Ciente das condições precárias das finanças públicas, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, não economizou promessas, da mesma forma que seus adversários. E em janeiro terá que governar para todos os brasileiros. Serão necessárias muitas velas para tantos santos.
Preocupa a falta de atitudes e de sinalizações que levem à pacificação com os três poderes e com os agentes econômicos. Convém lembrar que o mercado somos todos nós, inclusive o pequeno poupador e, principalmente, os autônomos e empreendedores que geram renda e emprego, justamente a fórmula de reduzir a pobreza e a desigualdade. O objetivo de Lula, para ser alcançado, exige um ambiente econômico seguro e de confiança para atrair investimentos nacionais e internacionais.
É preocupante a falta de atitudes e de sinalizações das lideranças que levem à pacificação do Brasil
Ao contrário, é de estranhar o silêncio do STF, da classe política e até mesmo das lideranças que não se posicionam frente às manifestações, gerando um clima belicoso das autoridades diante de decisões monocráticas e de anúncios explícitos de irresponsabilidade fiscal, sem nenhum comprometimento com metas de médio e longo prazos. A ampliação dos programas de auxílio aos mais necessitados é justa, mas será viável? Da mesma forma que a política de valorização do salário mínimo. Tudo, entretanto, requer fontes sustentáveis de financiamento capazes de dar suporte ao crescimento. No médio prazo, o governo precisa mostrar o caminho para as necessárias reduções de gastos e para o equilíbrio fiscal, de modo a não prejudicar a população, principalmente a de baixa renda, com inflação e juros altos.
Furar o teto de gastos, por mais que o argumento da responsabilidade social seja nobre, vai na contramão de qualquer política minimamente razoável para quem conhece a dinâmica do mercado. Não por outra razão, praticamente desembarcaram do futuro governo nomes qualificados como os de Armínio Fraga e Henrique Meirelles. E outros poderão seguir o mesmo caminho.
Ainda sem uma âncora fiscal definida, a 40 dias da posse, o fato é que o novo mandatário do País assumirá o Palácio do Planalto em meio a manifestações populares e tendo que solucionar a delicada equação que inclui gastos e inflação acima da meta.
Resta a todos nós torcermos para a pacificação dos ânimos e por um futuro mais próspero. Sem perdas para nenhum “mané”.