Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Sempre me interessei pelas pessoas, o que pensam, no que acreditam, como decidem. Trabalho há muitos anos com jornalismo, marketing, gestão de crises e conselhos. Para entender melhor o comportamento das sociedades, decidi fazer mestrado em antropologia na Universidade de Lisboa. Os antropólogos vão a campo ver onde as coisas realmente acontecem e juntam fatos do passado para entender como funcionava a vida dos humanos e não humanos na terra. Pesquisam, leem, comparam dados. Prestam atenção em evidências, investigam, olham para todos os lados.
Enfim, diante dessa fé cega, fica aqui o convite: ainda é tempo de acordar
Sob esta perspectiva, tenho procurado entender o que acontece no Brasil nos últimos anos. Sinto que estamos perdendo o senso crítico. A cada eleição, vejo mais e mais pessoas se comportando como se fizessem parte de uma grande torcida organizada. Como somos o país do futebol, é comum vermos torcedores fanáticos sem nenhum senso crítico, não se importam se um jogador é racista, se o gol foi feito com a mão, se os dirigentes roubam. O que importa é que o time vença de qualquer maneira! Nos últimos tempos, vejo que trouxemos esse jeito de ser para o campo político. Estamos polarizados e agarrados em nossos argumentos.
Os conteúdos chegam prontos, e as pessoas os espalham como recebem, sem examinar se estão alinhados com o que querem para suas vidas e seu país. É assustador! E tenho visto pessoas queridas, amigas, defendendo verdadeiras atrocidades, sendo usadas como marionetes, sem questionamentos. A fé cega reproduz o fanatismo de uma final do futebol. Quando escolho um governo, escolho o meu futuro e o das pessoas que vivem no país. A política tem como função atender às necessidades do povo. Nossos governantes fazem isso? Há um projeto que procura atender às necessidades básicas da população – alimento, moradia, saúde, educação? Temos perspectiva de uma vida melhor?
Recentemente, o professor italiano Domenico De Masi, profundo conhecedor do Brasil, escreveu que vivemos um “rebaixamento geral do nível cognitivo da população… Vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades – terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo... É muita regressão e ela nos atinge. De repente, surpreendemo-nos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade…Precisamos lutar para não emburrecer… para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais”.
Enfim, diante dessa fé cega, fica aqui o convite: ainda é tempo de acordar. A Copa do Mundo vem depois. Agora é hora de escolher com consciência e responsabilidade, exercitar o senso crítico. Para alguns, a escolha será entre o ruim e o pior. Para outros, entre o bom e o ruim. Isso faz parte! Só lembre que não estamos em uma torcida de futebol. É o futuro do nosso país que está em jogo!