Alguns resultados que saíram das urnas no domingo colidem frontalmente com o indicado pelas pesquisas de intenção de voto de institutos considerados renomados. Como exemplos mais eloquentes estão as disputas para os governos do Rio Grande do Sul e de São Paulo, onde os nomes apontados para estar na dianteira no primeiro turno acabaram em segundo lugar, com inversão de posições e expressiva diferença em relação às sondagens. Algo parecido ocorreu na competição pelo Senado nos dois Estados.
As discrepâncias observadas na comparação com os números da apuração no domingo estão muito além do razoável
Em respeito ao eleitor e à própria democracia, é indispensável que as empresas especializadas, notadamente Ipec - sucessor do Ibope - e Datafolha, com erros por margem muito acima do que suas metodologias aceitam, venham a público se explicar. O Grupo RBS sempre deixou claro, desde o início da cobertura da campanha, que não faz pesquisas eleitorais. Em todos os pleitos, contrata empresas com experiência e reputação no mercado. Levantamentos do gênero, sempre é importante reforçar, mostram o retrato do momento na disputa pelos votos, e não necessariamente o resultado final. Eleições são dinâmicas e podem ser alteradas na última hora por fatores como o chamado voto útil ou pela definição dos indecisos em certa direção. Neste episódio, ficou claro que as pesquisas não conseguiram captar os movimentos dos eleitores nas 48 horas anteriores à abertura das urnas. As discrepâncias observadas na comparação com os números da apuração no domingo estão muito além do razoável.
Não é apenas a sociedade que merece receber justificativas plausíveis. Como clientes, as empresas contratantes não foram bem atendidas pelos institutos. É o caso da RBS, que encomendou pesquisas ao Ipec. O intuito da imprensa profissional - sempre - é levar a melhor informação ao seu público. Se o cenário demonstrado, mesmo às vésperas da eleição, difere em larga escala do escrutínio das urnas, os veículos de comunicação também acabam prejudicados.
Não se põe em dúvida a honestidade dos principais institutos de pesquisa. Os mais tradicionais ergueram a sua reputação exatamente por terem um percentual de acertos, ao longo dos anos, muito acima de erros pontuais. Construíram trajetórias a partir da credibilidade amealhada pelo trabalho em sucessivas eleições. Se, ao contrário, tivessem amplo histórico de imprecisão por larga margem, seriam naturalmente alijados do mercado. Até por essas razões, urge que busquem compreender o que levou aos erros e informem isso de forma transparente à sociedade.
Ao longo dos últimos meses, inclusive empresas reconhecidas apresentavam resultados muito diferentes para um mesmo momento da disputa. Sinal de que alguém estava se equivocando. Surgiram muitas hipóteses para explicar essa situação. Entre elas, a falta de um censo demográfico atualizado. O último é de 2010. Esse amplo levantamento a cargo do IBGE sobre as características da população não foi realizado em 2020, devido à pandemia, e em 2021, pela insuficiência de recursos repassados pelo governo federal. Só agora, em 2022, está sendo executado. Dessa forma, não é possível ter uma estimativa precisa sobre as estratificações sociais em quesitos como renda, escolaridade e religião, camadas utilizadas pelos institutos nos levantamentos e que servem para definir o peso de cada recorte no resultado final.
Algumas empresas, por exemplo, consideram que 38% dos eleitores ganham até dois salários mínimos. Para outras, o percentual chega a 55%. É uma diferença imensa. Esse é apenas um dos pontos controversos levantados pelos próprios especialistas na área. A análise sobre as possíveis razões para as divergências deve ser bem mais extensa e profunda.
O principal, agora, é que os institutos revisem seus processos e metodologias. Devem fazer isso já, a tempo do segundo turno, sob o risco de verem sua credibilidade desmoronar ainda mais. As empresas do setor têm o dever de prestar um bom serviço ao público, ao eleitor e aos contratantes.