Por Igor Oliveira, consultor empresarial
A canção de Natalhão e SD9, as faixas e pinturas na Avenida Brasil, Rio de Janeiro. São muitas as manifestações que contêm as frases “muito tiro, pouca aula. Pouca aula, mais bandido.” Deixa-se para o leitor fazer mais um nexo ao final da última oração: mais bandido, ainda mais tiro. Trata-se de uma fala poderosa não apenas por retratar, de forma visceral, a guerra às drogas que assola o Brasil, mas principalmente por ligar pontos que muitas vezes não estão conectados na mesma narrativa.
É o que se costuma designar como pensamento sistêmico. Sua aplicação na esfera pública é rara e frequentemente mal-sucedida. Ainda não há uma abordagem poderosa e suficientemente difundida que consiga empurrar os sistemas sociais e políticos na direção de uma maior consideração de relações complexas como essa nos processos de decisão dos diferentes atores, sobretudo daqueles que detêm o poder institucional.
Enquanto não são neutralizados por ciclos de equilíbrio, os ciclos de reforço tendem a se amplificar de maneira superlinear ou até exponencial
Nos últimos anos, tenho encarado de frente esse desafio e trabalhado com organizações internacionais que utilizam modelagem e simulação para aumentar as chances de essas pessoas compreenderem a estrutura por trás de grandes problemas sociais e ambientais. A racionalidade humana é limitada na sua capacidade de interpretar essas estruturas, por isso contamos com a ajuda dos computadores.
O problema é que sofremos a concorrência cada vez mais acirrada das campanhas de fake news orquestradas por grandes financiadores. Mesmo os decisores mais bem-intencionados acabam sucumbindo à pressão por um maior pragmatismo político, e consequentemente adotam narrativas irracionais, simplesmente por ressoarem bem com o eleitorado. Na melhor das hipóteses adotam narrativas simplistas, por não terem espaço midiático e político suficiente para transmitir mensagens que contenham mais de um nexo causal (a que citei acima tem três).
Em pensamento sistêmico, o tipo de relação retratado na canção é conhecido como ciclo de reforço. Enquanto não são neutralizados por ciclos de equilíbrio, os ciclos de reforço tendem a se amplificar de maneira superlinear ou até exponencial. Ou seja, os problemas sociais que são explicados por eles tendem não apenas a seguir existindo, mas a crescer de maneira acelerada. Enquanto não encontrarmos abordagens de guerra informacional que comportem a complexidade desses problemas, não há saída para a civilização neste planeta.