Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Já testei. Dizer a alguém que a causa da guerra no Afeganistão foi a ociosidade do aparato militar semi-privado americano, que por sua vez é gerada por investimentos massivos ao longo de um século. Grandes nações precisam de guerra para manter o status quo, tentei explicar. O interlocutor olha como se eu fosse maluco. Aquela cara de quem fala com um conspiracionista.
Veja, isso não se aplica apenas aos Estados Unidos. É uma dinâmica muito antiga. A acumulação de capacidades militares (tanto quantitativas quanto qualitativas, tecnológicas) leva a uma urgência por utilizá-las. Se você mantiver as tropas de elite paradas, elas deixam de ser tropas de elite. Se você não testar no campo uma tecnologia bélica, você pode perder a chance de incrementá-la um pouco mais, e talvez perca a chance de encontrar uma vantagem competitiva que justificaria todo o investimento até ali.
A busca pela transparência e eficiência nos gastos militares é uma parte essencial do exercício da democracia
As lideranças militares no mundo todo utilizam uma lógica de custos afundados ou irrecuperáveis para convencer os governos a entrar em guerra. Já investimos tudo isso, não podemos colocar tudo a perder.
Os fornecedores, por sua vez, aplicam o mesmo argumento nas lideranças militares. Vocês nos pediram para comprar tal coisa, e só vamos usar uma vez? Disseram-me que, se eu tivesse tal equipamento ou contingente treinado, poderia seguir vendendo para as forças armadas por muito tempo.
Esses estoques de capacidades quantitativas (número de tropas, veículos, equipamentos) e qualitativas (vantagens marginais em situações específicas de conflito) demoram décadas para serem constituídos. Cada nova guerra é resultado de muito tempo de acumulação desses processos lentos. E todo governante de baixa popularidade sabe disso, ou seja, sabe quem provocar para gerar um inimigo externo que justifique sua permanência no poder. Provoca quem está precisando de uma guerra para mover as máquinas.
Por isso, a busca pela transparência e eficiência nos gastos militares é uma parte essencial do exercício da democracia. Quem quer viver em um mundo pacífico, sem ataques armados a minorias ou guerras infundadas, precisa contribuir com essa causa. Não é fácil, há sempre um argumento pelo sigilo, baseado na existência de espionagem. Argumento esse que quase sempre é hipócrita porque os próprios governantes não representam o interesse nacional tanto quanto o dizem, mas sim interesses privados da indústria da guerra.