Salvo alguma surpresa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve elevar novamente a Selic amanhã em mais um ponto percentual. Confirmando-se a previsão predominante no mercado, a taxa chegará a 6,25% ao ano. Será mais uma dose do amargo mas neste momento necessário remédio do aumento do juro, na tentativa de conter a inflação. A alta do custo de vida, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em 9,68% em 12 meses, carcomendo a renda dos brasileiros em um momento ainda de mercado de trabalho fraco e estagnação dos ganhos da população. Ou seja, para milhões de cidadãos, especialmente nas camadas mais baixas, está impossível manter o poder de compra. Ir ao supermercado para adquirir os mesmos produtos básicos e pagar contas elementares, como a de energia, exigem um esforço cada vez maior, reduzindo margem que poderia ser direcionada para o consumo e ajudar a dar pulsão à economia.
Seria conveniente que o governo federal voltasse a mostrar compromisso com a responsabilidade fiscal, trabalhasse por reformas consistentes e abandonasse de vez a postura beligerante
A elevação do juro é racionalmente o que deve ser feito para evitar um descontrole da inflação após o BC subestimar a alta dos preços que ocorre ao longo do ano, por considerá-la transitória. Agora, como dizem os especialistas, tem de correr atrás da curva de juros do mercado. Ocorre que, como dano colateral, a alta da Selic, por encarecer o crédito, é mais um golpe nas esperanças de retomada da economia em 2022, com projeções que minguam semana a semana. Não são poucas as instituições que passaram a prever alta do PIB para o ano que vem no intervalo ao redor de 1%, com viés de baixa. Trata-se de uma péssima notícia para um país que mal se recuperou da pancada da pandemia, padece com alto desemprego e novamente vê surgir a possibilidade de uma indesejada estagflação.
Até como lição, deveria ser compreendido como o Brasil chegou a este ponto, próximo de ver frustradas mais uma vez as perspectivas de uma retomada mais robusta da atividade. O básico é que não há saídas mágicas ou atalhos para problemas complexos. Além do desleixo com a inflação, tramitam reformas de baixa qualidade, o governo dá sinais repetidos de falta de estrategia e predomina o sentimento de que a responsabilidade fiscal deixou de ser prioridade, em nome de uma estratégia eleitoreira. Assim, contaminam-se as expectativas, e o ciclo nefasto se realimenta.
O mundo viveu recentemente um período de valorização das commodities. Em regra, quando isso acontece, o efeito inflacionário no Brasil é em boa parte anulado pela entrada de dólares decorrente de exportações destas mesmas commodities. É quando, por exemplo, o real costuma se valorizar. Não foi o que se observou agora. A moeda brasileira continuou a se depreciar. Uma das principais causas, apontam especialistas, seria a de que estes dólares das exportações foram mantidos no Exterior pelo temor com a escalada da crise institucional no país e as ameaças de ruptura. Desperdiçou-se, portanto, uma oportunidade para amenizar a pressão inflacionária e talvez evitar maior aperto monetário. A conta é paga pela população.
Há agora tendência de desvalorização das commodities. Ou seja, talvez o país não conte com o empurrão externo para retornar ao trilho do crescimento. A crise que envolve a segunda maior incorporadora da China eleva a ameaça de desaceleração do principal parceiro comercial do país. É uma perspectiva ruim, com os primeiro sinais aparecendo no mercado financeiro nos últimos dias. Mas, nas questões em que o país pode manejar, sempre há espaço de manobra. Ao lado do avanço da vacinação, seria conveniente que o governo federal voltasse a mostrar compromisso com a responsabilidade fiscal, trabalhasse por reformas consistentes e abandonasse de vez a postura beligerante.