Por Igor Oliveira, consultor empresarial
No mês passado, escrevi sobre quão ilusório é o crescimento de curto prazo gerado pela valorização global das commodities. Ele é pago pelos mais pobres, não é redistribuído sob a forma de salários e atrapalha os setores mais sofisticados por encarecer o câmbio. Até aí estamos falando de uma conhecida descrição dos desafios de desenvolvimento do Brasil. Mencionei que se focássemos em atividades um pouco mais elaboradas, por exemplo, agricultura de valor agregado e processamento de alimentos, já daríamos um grande salto.
O diabo está nos detalhes dessa transição para uma maior sofisticação.
Em 2017, fiz aqui na coluna uma série de artigos sobre uma das tentativas fracassadas feitas pelo Brasil para trilhar esse caminho: o subsídio ao setor de proteína animal. Acabou que criamos uma gigante da proteína que reinvestiu boa parte desse subsídio em outros países e não parece ter dado uma contribuição razoável para o desenvolvimento nacional.
Também é verdade que negligenciamos aprendizados importantes de experiências nossas e de outros países
Tinha alguma lógica a ideia dos políticos da época: depois de meio século de subsídios a insumos da pecuária, como soja e milho, era hora de tentar dar um passinho na agregação de valor e criar uma campeã nacional da carne. Sei que política industrial precisa dar errado muitas vezes antes de dar certo, porém também é verdade que negligenciamos aprendizados importantes de experiências nossas e de outros países.
Primeiro, que o passo era tímido demais. Frigorífico não é um negócio que precisa de subsídio para lidar com um risco tecnológico. Abundância de capital em atividades de baixo valor agregado só atrai oportunistas. Segundo, que não colocamos regras claras sobre contrapartidas em termos de exportações, empregos de valor agregado, incorporação de tecnologias nacionais na cadeia. O que não asseguraria o sucesso, mas deixaria o propósito da operação mais claro para todos os envolvidos.
Antes de entrar em outras aventuras desse tipo, o Brasil precisa de uma reforma tributária que garanta que não haja uma ladeira fiscal perversa. Hoje, uma média empresa que lance no mercado um produto alimentício inovador vai pagar mais imposto (e ter menos acesso a crédito) do que um fazendeiro que planta soja na terra que herdou do pai e onde apenas executa a cartilha das multinacionais do agro, ou seja, nem empreendedor é. Por mais bem desenhada que seja, política industrial nesse contexto só pode virar pó.