Embora ainda insuficiente, vem em boa hora a iniciativa, que inclui gigantes do setor de tecnologia como Facebook, Twitter, YouTube e Microsoft, no sentido de ampliar a variedade de conteúdos que passarão a ter maior atenção, para que sua disseminação seja contida. O chamado Fórum Global da Internet para o Combate ao Terrorismo (GIFCT, na sigla em língua inglesa), se dedicava basicamente até agora a monitorar material de organizações como Estado Islâmico, Talibã e Al Qaeda, mas também passará a rastrear mensagens de grupos como os supremacistas brancos Proud Boys e os neonazistas Three Percenters. Um conteúdo identificado como extremista ou de pregação à intolerância e à violência em uma destas plataformas será compartilhado com os demais, que assim também poderão removê-lo.
Ganha corpo nas sociedades democráticas a convicção de que as maiores empresas do mundo da área têm de assumir responsabilidades em relação ao conteúdo que circula em suas plataformas
Não há dúvida de que o surgimento das redes sociais trouxe o benefício de democratizar a circulação de opiniões. Mas liberdade de expressão, é preciso ressaltar, não deve significar omissão e aceitação de discursos de ódio, racismo, xenofobia e desinformação em temas sensíveis, como a atual pandemia. O movimento de averiguação conjunta, portanto, está longe de significar censura. O ambiente virtual tem se tornado esconderijo e trincheira de grupos defensores de ideias antidemocráticas e que atentam contra valores humanos. Todo cuidado para combater a disseminação de teses obtusas, portanto, é saudável e bem-vindo.
Apesar de ser um passo inicial, deve ser saudada a iniciativa das gigantes da tecnologia em ampliar os seus filtros. Mas nas redes sociais, que ainda precisam de maior moderação, seguem grassando, mesmo que de maneira individual e não organizada, manifestações discriminatórias e ataques dirigidos a grupos, minorias ou pessoas. Todos os tipos de hostilidade demandam maior controle. É preciso que iniciativas como essa avancem e se aperfeiçoem, como um indicativo de que ganha corpo, nas sociedades democráticas, a convicção de que as maiores empresas do mundo da área têm de assumir responsabilidades em relação ao conteúdo que circula em suas plataformas, ou enfrentarão também cada vez mais a rejeição de seus públicos usuários.
Sabe-se que a preocupação com o chamado terrorismo doméstico ganhou nova dimensão nos Estados Unidos após a invasão do Capitólio, no início de janeiro. O episódio aumentou a pressão para que as principais empresas que operam redes sociais fiscalizassem mais o conteúdo extremista. Questões semelhantes também inquietam aliados próximos dos norte-americanos, tanto no próprio continente quanto na Europa e na Oceania. Mas se espera que as plataformas tenham uma atenção semelhante ao que ocorre em outros cantos do mundo, incluindo o Brasil.