São inquietantes as conclusões do relatório Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-Covid-19, divulgado há poucos dias pelo Banco Mundial. O estudo adverte que, no caso do Brasil, as sequelas da pandemia no mercado de trabalho se materializarão em até nove anos com a renda de parte da população comprometida. Confirmando-se essa perspectiva, serão ainda maiores as dificuldades para o país ter um crescimento com qualidade, no sentido de que os benefícios do avanço da atividade econômica não serão percebidos por todos os cidadãos. É um panorama que já é palpável hoje, como mostra a alta substancial do PIB previsto para 2021, da ordem de 5%, enquanto o desemprego permanece em níveis recordes e a miséria aumenta.
Soluções existem e passam não só pela educação, mas por distensionamento político, reformas e o avanço da vacinação para deter o mais rápido possível a pandemia
O relatório do Banco Mundial lista os trabalhadores com menos qualificação e os mais velhos como os mais afetados. Ou seja, são aqueles que terão maior dificuldade de recompor a renda a níveis semelhantes ao período anterior à chegada da covid-19. A força de trabalho com curso superior, por sua vez, será menos atingida. Isso significa que, mesmo que encontrem ou tenham enfrentado pontualmente dificuldade de recolocação, formam um grupo que, pelos atributos possuídos, tende a encontrar uma vaga e reaver a renda.
Esta constatação reforça que está na educação a chave para que mais brasileiros possam ter melhores esperanças de um futuro que os afaste do subemprego e de uma baixa produtividade que afeta toda a economia. É uma premissa que vale para médio e longo prazos, dando especial atenção para as crianças e adolescentes de hoje, mas também para os adultos que, neste momento, deparam com barreiras para a recolocação. O Banco Mundial observa que, além de medidas emergenciais, como programas de seguro-desemprego e ampliação da rede de proteção, é indispensável dispor de um sistema vigoroso e eficiente de apoio à busca pelo reemprego. O que passa, necessariamente, por programas de qualificação para esse contingente. Dos quase 15 milhões de desocupados no país, cerca de 3,5 milhões estão há mais de dois anos em busca de uma vaga. Tanto tempo de afastamento lega, sem dúvida, uma brutal desatualização em relação a tecnologias e processos, o que realimenta o ciclo nefasto. Em vários setores, é corriqueiro encontrar queixas de gestores de empresas observando que, apesar de oferta de vagas, são raros os candidatos que atendem aos requisitos exigidos para o posto.
Para incluir mais brasileiros no processo de crescimento da economia, gerando renda, consumo e fortalecendo o mercado interno, é inadiável trilhar a via do ensino. Para as atuais e futuras gerações. Isso inclui uma atenção especial à recuperação do aprendizado nas escolas, especialmente as públicas, após o longo período de colégios fechados, com toda a série de dificuldades do estudo online para os alunos oriundos de famílias mais humildes. Do contrário, a já inaceitável desigualdade do país continuará a crescer. Mas o que o Banco Mundial apresenta é um cenário. Assim, ainda é possível reverter este quadro, uma vez que soluções existem e passam não só pela educação, mas por distensionamento político, reformas e o avanço da vacinação para deter o mais rápido possível a pandemia.