É inadmissível que o tráfego aéreo da capital de um dos mais importantes Estados brasileiros fique, mesmo que temporariamente, outra vez refém da neblina. Pois é justamente isso o que aconteceu no início da semana, por alguns dias, quando condições meteorológicas corriqueiras no inverno gaúcho levaram ao atraso de voos no aeroporto de Porto Alegre.
Urge uma ação firme, com a união de poder público e iniciativa privada, para que o imbróglio da ampliação da pista seja definitivamente desfeito
Mais do que um transtorno para milhares de cidadãos, o fechamento do Salgado Filho tem um indesejável impacto econômico e social, uma vez que negócios ficam postergados pela impossibilidade do transporte de pessoas e produtos.
Além disso, as notícias sobre o assunto, amplamente propagadas pela mídia e em redes sociais, enfraquecem as vantagens competitivas no Rio Grande do Sul na busca por concorrer por novos investimentos. Aeroportos são um dos pontos levados em conta pelos tomadores de decisão nas grandes empresas na hora de decidir onde alocar recursos na expansão dos negócios. Em plena pandemia, esse tipo de desagregação de valor é inaceitável. Garantia e agilidade de deslocamento para outros centros urbanos importantes são premissas.
Por trás desse contratempo absurdo, está o atraso na ampliação da pista do aeroporto, alvo de uma arrastada disputa judicial que envolve a Fraport, empresa alemã que administra o Salgado Filho, e famílias que ocupam irregularmente as áreas que já deveriam estar liberadas para as últimas obras e o pleno funcionamento da extensão da estrutura de pousos e decolagens. Vale sempre ressaltar as inúmeras melhorias já realizadas, entre elas um eficiente sistema de drenagem, um novo terminal de cargas, ampliação da área de embarque, de estacionamento e a substancial melhora dos serviços. Ou seja, a culpa pela novela da ampliação da pista não é da Fraport, e sim da burocracia brasileira.
As informações oficiais dão conta de que a versão mais moderna do equipamento que permite chegadas e partidas sob baixa visibilidade, o ILS CAT II, instalado para a Copa do Mundo, em 2014, foi desligado por imposição técnica enquanto todas as obras da ampliação da pista não ficam prontas. Ou seja, a solução já existe, mas não pode ser usada. Urge uma ação firme na defesa dos interesses gaúchos, com a união de poder público e iniciativa privada, para que o imbróglio da ampliação da pista seja definitivamente desfeito e, assim, aterrissar e decolar em Porto Alegre nos meses em que a cerração é mais comum deixe, definitivamente, de ser esse vergonhoso transtorno.