Demonstra presteza a Polícia Federal (PF) ao começar a investigar como informações de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que são privadas e deveriam ser sigilosas e protegidas, são corriqueiramente vazadas. São dados que vêm sendo utilizados por intermediários e financeiras que, com eles, forjam empréstimos consignados para aposentados. As vítimas desse tipo recorrente de golpe, em regra idosos, têm assinaturas muitas vezes falsificadas e são surpreendidas com operações de crédito sem autorização, que acabam se tornando uma dor de cabeça, quando não causam severos prejuízos financeiros.
Golpes desse gênero, para serem desestimulados, devem ser passíveis de uma investigação criteriosa, que produza provas robustas e leve a condenações pedagógicas
Reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) publicada há uma semana em Zero Hora mostrou como a fraude, denunciada outras vezes, se tornou recorrente e, pior, vem crescendo. É preciso dar um basta nestes vazamentos que têm origem, ao que tudo indica, no próprio INSS. Não se espera outro desfecho que não a identificação dos autores desse crime no órgão do governo federal para que se evite esse tipo de irregularidade onde ele nasce. Mas também é indispensável ampliar as apurações para se chegar aos que operam essa falcatrua na fase da falsa contratação do crédito.
Procurado, o INSS informou que não abriu averiguação sobre o caso, mas disse sempre colaborar com as investigações da Polícia Federal e que já auxiliou a resolver situações parecidas. Assegurou ainda que toma providências quando recebe queixas de cidadãos. Esse tipo de postura apenas reativa, no entanto, é insuficiente. É dever da autarquia zelar pelos dados dos segurados do instituto. Seria necessário aperfeiçoar mecanismos e sistemas que impeçam vazamentos semelhantes. Ao mesmo tempo, deveria ser mais ativo nas apurações internas.
A reportagem do GDI mostrou que uma empresa, em um chat na internet, vendia esses dados, sem muito esforço para esconder as irregularidades. Não será tão difícil, portanto, chegar a participantes dessa fraude e puxar o fio da meada. Golpes desse gênero, para serem desestimulados, devem ser passíveis de uma investigação criteriosa, que produza provas robustas e leve a condenações pedagógicas. Ao mesmo tempo, é inequívoca a premência de o sistema financeiro implantar melhoria nos processos de checagem para identificar operações fraudulentas e não concluí-las. Assim evitará que milhares de brasileiros, em grande parte idosos, enfrentem uma maratona burocrática desgastante e o risco de perdas que muitas vezes significam o agravamento de dificuldades para quem já vive um dia a dia de aperto financeiro.