Está em curso no país, para o bem da população, uma disputa sadia entre governadores e prefeitos. Nos últimos dias, diversos Estados e municípios anunciaram a antecipação de seus cronogramas de vacinação para covid-19, alimentando as esperanças dos brasileiros quanto à tão desejada proteção contra a doença que, desde o início do ano passado, cobre o mundo de incertezas e dor. No início do mês, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, adiantou que, mantida a expectativa de entrega de imunizantes pelo Ministério da Saúde, seria possível dar a primeira doses a todos os gaúchos adultos, a partir dos 18 anos, até o final de setembro. Mas nota-se que, em algumas cidades, o processo caminha a passos ainda mais acelerados.
Ao incentivar a população a buscar a vacinação, governadores e prefeitos travam uma disputa que terá a população como grande vencedora e o país, como um todo, como beneficiado
Na região da Campanha, Candiota já estava vacinando, no sábado, pessoas a partir de 35 anos sem comorbidades. Parobé, no Vale do Paranhana, tinha programado para ontem o início da vacinação para cidadãos a partir dos 40 anos e várias outras cidades confirmavam a aplicação para o público abaixo de 50 anos. Na Capital, teve a largada nesta segunda-feira a imunização de homens a partir dos 54 anos. Em Caxias do Sul, na Serra, existe semelhante previsão de o trabalho ganhar tração e a projeção é de que, na sexta-feira, seja deflagrada a vacinação a partir da faixa etária de 50 anos.
No Estado mais rico do país, o governador João Doria também comunicou, no domingo, a antecipação dos planos. Pretende vacinar todos os adultos até meados de setembro, encurtando o cronograma original em um mês. Eduardo Paes, prefeito do Rio, a segunda maior cidade do país, foi na mesma linha e disse ser possível alcançar a meta no mesmo período. Ambos, nesta segunda-feira, trocaram mensagens em uma rede social em tom amistoso, como se competissem por imunizar mais rápido seus concidadãos. Ao incentivar a população a buscar os pontos de atendimento, governadores e prefeitos travam uma disputa que terá a população como grande vencedora e o país, como um todo, como beneficiado.
Mas há alertas a serem feitos. Para que o país alcance a cobertura vacinal completa desejada de ao menos 70% do público-alvo, é preciso ficar atento ao grande números de brasileiros que ainda está com a segunda dose atrasada. Se for necessário, os municípios terão de realizar uma busca ativa mais efetiva deste contingente, notadamente formado por idosos. E, mesmo com a corrida por antecipar a primeira dose, deve-se manter um planejamento que não traga riscos para a aplicação de reforço, como ocorreu há poucas semanas com a CoronaVac, por uma orientação equivocada vinda de Brasília. São preocupações, no entanto, que não nublam o cenário mais otimista que se descortina para o país. Com a chegada de imunizantes do Exterior e normalização de entregas dos ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs) para o Instituto Butantan e a Fiocruz, o Brasil parece agora ter o direito de vislumbrar vencer a pandemia mais cedo do que se imaginava algumas semanas atrás, mesmo que ainda seja necessário, por enquanto, manter todos os cuidados individuais, como distanciamento e uso de máscaras.