Uma das reclamações mais recorrentes dos gaúchos, nos últimos anos, é o péssimo estado da maioria das rodovias estaduais, a pouca extensão de estradas duplicadas e os acessos a muitos municípios ainda por vias sem asfalto. É um quadro que resulta, principalmente, da crise financeira crônica atravessada pelo Piratini, que impedia investimentos públicos no volume necessário, e da visão retrógrada que repelia a maior participação da iniciativa privada nesse setor. Abre-se agora a perspectiva de que boa parte destes problemas comece a ser solucionada, com benefícios para a economia do Rio Grande do Sul e maior segurança para os usuários.
São investimentos que darão mais competitividade a empresas instaladas em diferentes cantos do território gaúcho
Graças à racionalização de gastos com reformas e ao dinheiro novo que ingressará no caixa por privatizações e novas concessões, o governo gaúcho anuncia agora que vai aplicar R$ 1,3 bilhão em recursos próprios, até o próximo ano, para reparos, conservação e construção de acessos pavimentados, provendo de melhor infraestrutura todas as regiões do Estado. São investimentos que vão dar mais competitividade a empresas instaladas em diferentes cantos do território gaúcho, reduzindo custos logísticos e capilarizando oportunidades de desenvolvimento. Condições mais seguras de tráfego também representam riscos menores de acidentes. Espera-se que se dê grande atenção especialmente à qualidade dos pavimentos, para que não se repitam problemas já vistos de estradas que se degradam rapidamente com poucos anos de uso.
Deve ser celebrado ainda o fato de, desta vez, os recursos de privatizações serem direcionados para investimentos que trarão um retorno para a sociedade gaúcha, e não consumidos para tapar buracos apenas no sentido figurado, como o custeio de uma máquina estatal pesada e ineficiente. É um sinal, sobretudo, de que o Estado começa a deixar para trás a era de maior penúria e ingressa em uma fase de maior capacidade de investimento.
A melhora das estradas será ainda garantida pelo programa de concessão de 1,1 mil quilômetros de rodovias estaduais, que prevê investimentos de R$ 10, 6 bilhões em 30 anos. Várias regiões do Estado terão uma infraestrutura mais condizente com as suas necessidades. Se a isso forem somados os programas federais, torna-se ainda mais claro que os gaúchos têm, à frente, perspectivas de vias melhores nos próximos anos. São frentes que tendem ainda a gerar uma expressiva demanda para empresas de construção pesada, um dos setores mais castigados pela crise brasileira, com a possibilidade da abertura de uma quantidade significativa de empregos.
As boas notícias, entretanto, não impedem uma reflexão conceitual mais ampla. Tanto o Rio Grande do Sul quanto o país seguem dependentes do modal rodoviário. Ainda seria preciso incentivar o crescimento do transporte por ferrovias e hidrovias, nos pontos do Estado onde há esta possibilidade, para reduzir custos e reduzir o movimento de veículos pesados nas estradas. É uma questão também de sustentabilidade. E uma tendência que poderia estar presente nos editais de concessões das rodovias do Estado, assegurando, por exemplo, pontos de recarga para veículos elétricos ou mesmo um programa de desconto nas tarifas de pedágios para veículos que não utilizem combustíveis fósseis. São ideias sintonizadas com o futuro e podem muito bem ser consideradas, sem que se apaguem os méritos na iniciativa anunciada pelo governador Eduardo Leite.