A volta às aulas presenciais, em pleno recrudescimento da pandemia, é um dilema que ultrapassa as fronteiras do Rio Grande do Sul e do Brasil. No Estado, a discussão neste momento é sobre a obrigatoriedade ou não do retorno dos estudantes das redes pública e privada às classes, mesmo que a frequência não precise ser diária. A questão, no entanto, não deve ser centrada na compulsoriedade. A prioridade teria de estar no esforço para passar à comunidade escolar a segurança de que há um planejamento detalhado e um cumprimento rigoroso de medidas sanitárias e protocolos e, assim, gerar confiança em alunos, pais, professores e funcionários dos colégios. Somente com confiabilidade será possível atingir êxito para a necessária retomada do ensino presencial.
Os alunos das escolas públicas foram os que mais tiveram prejuízos na aprendizagem no ano passado
Sabe-se que a rede privada, pela maior disponibilidade de recursos, tem melhores condições de superar esse desafio. Os exemplos são inúmeros. Na educação pública, porém, as dificuldades e carências são maiores. A Secretaria Estadual da Educação (SES) assegura, agora, que todos os equipamentos de proteção pessoal (EPIs) e produtos de limpeza e desinfecção adquiridos foram entregues para as mais de 2,4 mil escolas que gere. Ao ensaiar a retomada das aulas em outubro do ano passado, o governou gaúcho falhou ao não disponibilizar a tempo todos os materiais prometidos. Com isso, alimentou desconfianças e resistências que levaram a uma baixa adesão. Seria aconselhável, desde já, um esforço de comunicação para mostrar que a volta às classes será feita com todas as precauções e, mais importante, comprovar na prática a existência dessa prudência.
Os alunos das escolas públicas foram os que mais tiveram prejuízos na aprendizagem no ano passado. Boa parte vem de famílias humildes, sem acesso a internet de qualidade e equipamentos adequados para as aulas remotas. Especialmente os mais carentes, fora da escola, estão expostos a uma série de riscos, desde a violência à falta de uma alimentação apropriada. A desconexão com a escola levou 5,5 milhões de crianças e jovens brasileiros a deixarem de estudar em 2020, mostrou um estudo com participação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A educação é a forma mais viável de serem criadas condições de mobilidade social, principalmente para os estratos mais desvalidos da população. Em um país de grande desigualdade como o Brasil, a volta às aulas na rede pública, com toda a segurança, tem de ser uma prioridade, sob o risco de se aumentar ainda mais o abismo entre ricos e pobres, com reflexos negativos para toda a economia.
Estudos já mostraram que crianças representam baixo risco de transmissão da covid-19. Mas isso não significa a defesa da abertura das escolas a qualquer preço. É um processo que deve ser gradual, cuidadoso, com medidas de distanciamento e rodízio, também para proteger professores e funcionários. E todos dos grupos de risco têm de ter a opção de permanecer na modalidade virtual, como prevê a proposta estudada pelo Piratini, a partir do pedido sobre a obrigatoriedade levado pelo Sindicato do Ensino Privado (Sinepe). Infelizmente, pelo ritmo de imunização, não será possível esperar a vacinação em massa. O essencial neste momento, portanto, é oferecer e transmitir segurança para a retomada das aulas presenciais.