Nem só de angústias vive 2020. Mesmo em meio ao turbilhão de notícias sombrias, emergem novidades que merecem ser celebradas. Um desses bálsamos veio de uma conquista da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), que ao vencer um edital de R$ 4,69 milhões do Ministério Público poderá chegar mais perto de contar com uma estrutura à altura de seus 70 anos de história. Os recursos permitirão dar andamento à fase final das obras do complexo cultural-educativo da Casa da
A Ospa está a caminho de se reafirmar como referência da música e da inclusão na América do Sul
Ospa. Assim, será possível que a orquestra tenha à disposição um espaço adequado de trabalho e ensaio. A verba permitirá ainda a centralização das funções da fundação no Centro Administrativo Fernando Ferrari e reformas no saguão da Casa da Ospa.
A obtenção da quantia significa que a orquestra está a caminho de se reafirmar como referência da música erudita na América do Sul e ainda se consolidar como modelo de inclusão social por meio da arte. Os recursos vão proporcionar também a construção de um memorial, a indispensável aquisição de novos instrumentos para a orquestra e para a Escola Ospa, iniciativa gratuita concebida para a profissionalização de músicos.
Melhor aparelhada, terá mais condições de levar adiante a ideia do novo programa, o Ospa Social, concebido para atrair e descobrir jovens talentos em situação de vulnerabilidade. A arte poderá cumprir ainda mais o papel de ser meio de novas descobertas e possibilidades para crianças e adolescentes que, de outra forma, teriam ínfimas chances de desenvolver dons e habilidades musicais. Projetos como esse têm ainda a importante tarefa de dar oportunidades para meninos e meninas de famílias sem condições de proporcionar esse tipo de perspectiva luminosa a seus filhos e filhas. É algo que já faz, por exemplo, a Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul, sob a batuta do maestro Telmo Jaconi, violinista da Ospa por mais de quatro décadas.
"Eu venho de uma cidade que tem uma orquestra sinfônica", costumava dizer, com orgulho, o escritor Erico Verissimo, referindo-se à Ospa, uma das principais orquestras sinfônicas do Brasil, berço de reconhecidos maestros e solistas. Entre altos e baixos ao longo de sua trajetória, 2020 começava auspicioso, com uma programação especial para comemorar as suas sete décadas. O planejamento acabou abatido pela pandemia, mas foi possível se adequar e se reinventar, com apresentações online, enquanto se espera a possibilidade de retomar os eventos presenciais. Como um organismo vivo, orquestras se adaptam, inclusive tentando estabelecer pontes com novos públicos, com fez a Ospa, como os espetáculos Pink Floyd Sinfônico e Música de Cinema e, quando possível, realizando concertos em lugares abertos.
Períodos de crise, como o atual, costumam se traduzir em escassez de recursos para todas as áreas, mas normalmente a cultura é uma das que mais sofrem com a falta de financiamento adequado. A verba captada pela Fundação Ospa, portanto, tem um significado que faz a ponte perfeita entre a arte e a vida real. Nada, mais do que isso, merece aplauso.