Por definição, forças-tarefa em quaisquer atividades são montadas para fins e períodos determinados. Desde a saída do ex-juiz Sergio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba, dos vazamentos que expuseram práticas não plenamente defensáveis e, sobretudo, da crescente lista de investigados e condenados, a Lava-Jato vem sofrendo uma série de reveses. O mais recente é capaz de juntar no mesmo balaio petistas, tucanos e bolsonaristas, fora o eterno centrão, todos contrariados com a abrangência e continuidade das investigações.
O pior que pode acontecer é se enterrar a operação de uma hora para outra, sob o manto da suspeita
O golpe mais duro contra a operação veio de onde menos se esperava – da própria Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidiu dar um basta à desenvoltura independente dos procuradores. Não há dúvida de que a larga ação da chamada República de Curitiba colecionou desafetos, inclusive dentro da PGR. O aparente descontrole e a autonomia absoluta, somados a doses de vaidade explícita e práticas por vezes questionáveis, foram aos poucos sangrando a Lava-Jato. No mais recente e surpreendente episódio, o presidente Jair Bolsonaro foi recebido no Piauí, na semana passada, com gritos de apoiadores pelo fim da Lava-Jato.
Muita gente que se elegeu com discurso de apoio à operação agora se volta contra ela ou trabalha silenciosamente para sabotá-la. O alvo favorito é o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, símbolo máximo da Lava-Jato, que conseguiu a façanha de unir esquerda e direita como seus detratores.
Apesar dos equívocos isolados, que se somam a uma certa percepção de prepotência de procuradores, inclusive em cargos de direção no passado, o papel que a Lava-Jato teve na história brasileira ainda está para ser devidamente dimensionado. No mínimo, pode-se dizer que ela interrompeu o reinado de um cartel de empreiteiras sobre as campanhas e a política do Brasil e da América Latina. Muito do trabalho que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e diferentes instâncias judiciais lograram está completo, com amplo sucesso. Afinal, foram até agora 165 condenados, em primeiro e segundo graus, além de mais de R$ 4 bilhões recuperados para os cofres públicos.
Ainda assim, seria precipitado avaliar-se que a missão da Lava-Jato, como demonstram ações recentes contra dirigentes tucanos e outras investidas, tenha se exaurido a ponto de se dispensarem novas investigações. É fato, porém, que forças-tarefa não devem se eternizar, sob pena de reproduzirem vícios, se erguerem feudos e se aprofundarem injustiças. O ideal seria, em uma trajetória controlada pelo próprio MPF, ir se concluindo gradativamente a operação como um todo e ser mantida a guarda em alta, sempre com a atenção a elementos que possam suscitar outras apurações. O pior que pode acontecer é se enterrar a Lava-Jato de uma hora para outra sob o manto da suspeita, como age no momento o próprio procurador-geral da República, Augusto Aras e, mais ou menos abertamente, representantes de diferentes partidos.