Esteio da economia do Rio Grande do Sul e do Brasil, a agropecuária continuará, nos próximos anos, ajudando a alimentar o mundo e contribuindo de forma expressiva para o desenvolvimento do país. Pesquisa do Ministério da Agricultura publicada na edição de ontem de Zero Hora, pela colunista Gisele Loeblein, projeta no ciclo 2029/2030 uma produção nacional de grãos 27% maior do que a colhida neste ano, enquanto nas carnes o acréscimo de volume será de 23,8%. O trabalho traz ainda a relevante informação de que grande parte desse avanço robusto ocorrerá por ganho de produtividade. É um sinal positivo por mostrar que o Brasil tem amplas condições de, com incorporação cada vez maior de tecnologia, conciliar preservação com a manutenção do ritmo de crescimento do setor.
O agronegócio brasileiro é um dos mais competitivos do mundo, se não for o líder deste ranking
O campo e suas cadeias, incluindo indústria, comércio e serviços, foram o grande amortecedor da recessão brasileira de 2015 e 2016 e, ano a ano, provam a sua importância, garantindo saldos positivos para o país no balanço das importações e exportações. A chegada da pandemia do novo coronavírus representou um golpe para a maior parte dos segmentos econômicos, mas o agronegócio passa pelo período mais crítico de forma quase incólume, demonstrando que a decisão de desenvolver essa atividade, verdadeira vocação nacional, foi a aposta mais acertada da história recente brasileira. Com clima, solo, gente apta, abertura à inovação e ciência, o resultado não poderia ser outro: o agronegócio brasileiro é um dos mais competitivos do mundo, se não for o líder deste ranking, a despeito de gargalos como uma péssima logística e carga tributária muito acima dos concorrentes do Mercosul, por exemplo.
A despeito da seca inclemente que castigou o Estado no último verão e levou a perdas significativas nas lavouras, a agropecuária foi o setor com o melhor desempenho no mercado de trabalho no primeiro semestre, praticamente com estabilidade no saldo de vagas com carteira assinada.
A falta pontual de chuva na safra 2019/-2020, entretanto, em nada compromete a tendência de continuidade de crescimento da atividade nos próximos anos no Rio Grande do Sul, um dos líderes nacionais na produção de grãos e carnes, reunindo condições para alavancar rapidamente os negócios que precedem e sucedem a lida dentro das propriedades rurais.
O status atual alcançado pelo Rio Grande do Sul e pelo Brasil não veio por acaso. É fruto de muito trabalho, desenvolvimento e uso de novas tecnologias, sobretudo nos últimos 20 anos. Tem papel crucial nesse ciclo virtuoso a ciência voltada para o campo, com destaque para a Embrapa, uma das raras estatais que justificam a sua existência, que merece apoio pelos resultados que gera, materializados em maior produtividade em culturas e criações Brasil afora.
Toda essa relevância e os resultados excepcionais, no entanto, não significam a inexistência de pontos de preocupação. Essas inquietações passam por questões antigas, como crédito, mas também por desafios que se tornaram mais prementes, como a necessidade de evitar o contágio do agronegócio brasileiro pela inépcia e irresponsabilidade com que o governo federal tratou até agora a questão sensível do ambiente. É verdade que, nos últimos meses, há sinais em Brasília de certa mudança de rumo para se redimir dos muitos equívocos, mas ainda há um longo caminho pela frente e, mais do que palavras, investidores e clientes internacionais querem ver resultados, como a diminuição do desmatamento da Amazônia. Só assim os homens e mulheres do campo que afiançam um futuro promissor para o Brasil não correrão o risco de verem seus esforços ameaçados e penalizados por ações e omissões de autoridades da República que, até agora, emitiram apenas sinais e mensagens incompatíveis com a nova ordem mundial, em que a sustentabilidade será uma das grandes premissas do desenvolvimento e do fluxo de capitais.