Por Marcelo Pires, publicitário
Abril tem o som exato do verbo abrir, terceira pessoa do singular. Justo neste abril deste imprevisível 2020, estamos todos isolados em casa. Fechados.
Se nossas portas não estão escancaradas, o que se abre neste abril do recolhimento?
A consciência do planeta se expandiu: o que acontece no outro lado do mundo agora realmente nos interessa, o que acontece no outro lado da rua realmente nos afeta. Consciência meio que à força – mas consciência.
Nossas feridas também se abriram: estamos todos precisando de atenção, de cuidado, de pêsames. O respeito mútuo nunca foi tão bem-vindo.
Nossas mãos, tão comentadas hoje em dia (lave as mãos, passe álcool gel, evite passar as mãos no rosto), vão ter que aprender a se fechar para o supérfluo, aprendendo a se abrir para o básico. Dinheiro anda curto e deve encurtar ainda mais. Vamos reaprender o que é essencial?
O certo é que as ideias vão ter que se abrir. Abrir novos dias, limpando o tempo, clareando o horizonte. E antigas gavetas, trancadíssimas até aqui, cheias dos nossos individualismos, terão que se escancarar: nada muda sem arejar-se o ambiente.
Precisamos falar tanto dos nossos problemas quanto das nossas soluções, tanto das nossas fragilidades quanto dos nossos talentos. Abriremos uma nova fase com tudo isso? Um novo mundo? Uns escrevem que sim, outros garantem que não (eu torço que sim). Como tudo hoje em dia, já há brigas a respeito.
Grande empenho hoje em dia é achar equilíbrio. Foco no que é importante, inventividade no dia a dia. Em outras palavras, leveza nestes dias pesados.
Pode ser pouco – infelizmente, não sei fazer vacinas. Mas leveza ajuda. Até mesmo para valorizar pequenos detalhes como este: abril tem o som exato do verbo abrir, terceira pessoa do singular.