Por Pedro Schestatsky , neurologista, professor da Faculdade de Medicina da UFRGS
Então quer dizer que, se você se "comportar", poderá viver até os cem anos ou mais? Gostaria que fosse verdade, mas infelizmente este é um dos maiores mitos relacionados à longevidade. No Brasil, por exemplo, apenas 17 mil dos 180 milhões de habitantes, de acordo com dados do IBGE, se enquadram na categoria de centenários. A segunda mentira que gira em torno do assunto diz respeito à reversão da velhice. Muitas pessoas sonham e outras até acreditam que é possível reverter ou retardar o processo de envelhecimento. Se alguém lhe oferecer algum tratamento milagroso com esse propósito, caia fora que é cilada.
Quem é mais velho vai lembrar que quando se grava uma música de uma fita cassete para outra, a qualidade da mesma vai se perdendo, certo? Com o DNA ocorre o mesmo. Isso porque os telômeros vão diminuindo à medida que nossas células se dividem, como provado em O Segredo Está nos Telômeros, livro de Elizabeth Blackburn e Elissa Epel. Quanto mais envelhecemos, sendo assim, menores eles ficam. E, como a função deles é proteger o material genético que o cromossomo transporta, ficamos mais suscetíveis a sofrer de diversas doenças no fim da vida.
Nem tudo são más notícias: no livro, as cientistas nos contam também que o tamanho dos telômeros está diretamente relacionado a uma enzima chamada telomerase. Essa substância é responsável por restaurar o DNA perdido ao longo das divisões celulares.
A descoberta levou a outro questionamento: e se produzirmos mais telomerase, de modo a manter os nossos telômeros sempre longos? Em excesso, a telomerase pode levar ao crescimento descontrolado das células, predispondo, ao câncer. A fonte da juventude, portanto, é lenda.
Fomos feitos para durar tempo suficiente para crescer, procriar e ajudar nossos descendentes a se tornarem independentes. Um dia, todos iremos morrer. O que torna o trabalho de Blackburn e Epel tão incrível é o que descobriram em seguida: a relação do meio ambiente com os níveis da telomerase e, por consequência, com o tamanho dos telômeros. Em resumo, elas observaram que podemos tornar mais lento o processo de envelhecimento através de nossas escolhas diárias. Como? De modo geral, basta seguir com regularidade a sigla MAP: ter bons movimentos (10 mil passos/dia), alimentos (dieta mediterrânea) e pensamentos (meditação). Nos vemos daqui a algumas boas décadas!