Ao completar 40 anos nesta segunda-feira, o Partido dos Trabalhadores, que já governou o país e o Estado, está diante de sua maior encruzilhada. Deveria servir de reflexão para os eleitores, militantes e dirigentes do PT e das esquerdas o depoimento do ex-governador Tarso Genro publicado na sexta-feira pelo portal UOL. Por não se sentir identificado com a imagem que o PT acabou por consolidar de si mesmo, disse o ex-governador, esteve ausente dos festejos dos 40 anos da agremiação durante o fim de semana, no Rio. Defensor das ideias originais que fundaram a sigla, Tarso observa que, ao longo do tempo, o partido acabou se desviando do caminho e questiona se não houve renúncia a princípios. Não à toa, a legenda que pretendia ter a exclusividade do discurso da ética foi uma das protagonistas do maior escândalo de corrupção da história do país.
Se o PT e as esquerdas ainda pretendem ser uma opção viável de poder, é preciso rever o discurso aferrado a conceitos ultrapassados
Chama a atenção no depoimento o reconhecimento de erros como a resistência a se oxigenar e a não compreensão acerca das aceleradas mudanças no mundo do trabalho, que ocorrem não apenas no Brasil, mas de forma ainda mais acelerada em outros cantos do mundo. Um exemplo citado pelo ex-governador é a insistência do partido em pregar a restauração plena da CLT nas relações laborais, diante da fragmentação e de transformações da natureza do trabalho. Não há como uma legislação da década de 1940 responder a estas rápidas e constantes mudanças.
Se o PT e as esquerdas ainda pretendem ser uma opção viável de poder, é preciso rever o discurso aferrado a conceitos ultrapassados e práticas heterodoxas que levaram os brasileiros ao longo inverno recessivo. Além disso, lideranças do partido seguem driblando condenações a ditaduras de esquerda, para as quais, como qualquer outro regime totalitário, não há e não pode haver justificativas.
Um tom crítico também foi adotado por outra liderança histórica do partido, o ex-senador Aloizio Mercadante em entrevista publicada na sexta-feira pela Folha de S. Paulo, que admitiu equívocos na condução da economia e escorregadas políticas. Tais posições são contrapontos a posições intransigentes que seguem sendo expressadas pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva desde que foi solto e majoritariamente repetidas por outras lideranças da legenda. Sem abdicar dos culto à personalidade, Lula insiste em rechaçar a autocrítica e, no evento do partido, continuou demonstrando visão ultrapassada sobre as relações de trabalho, discurso imitado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Surgida nos últimos anos da ditadura em torno do movimento sindical, mas que também seduziu uma importante geração de intelectuais, o movimento estudantil e outras parcelas relevantes da sociedade, a sigla terá agora de escolher um caminho. Na via atual, marcha para aligeirar a sua obsolescência. Mantida a postura hegemônica e o tom radical, ruma para o isolamento. Sem se reconectar com a realidade, acabará reduzida à insignificância. Mantida a dependência a Lula, definhará por não abrir espaço para novas lideranças. Mas se arejar seus conceitos e se renovar, pode ter chances de representar a camada do eleitorado de centro-esquerda e recuperar o papel de ator relevante na oposição e na democracia brasileira.