O expressivo crescimento no Rio Grande do Sul do trabalho intermitente é uma fresta pela qual começa a se oxigenar a geração de empregos no Estado e, via de regra, no país. No acumulado de 12 meses, até novembro do ano passado, o trabalho intermitente produziu 4.173 vagas com carteira assinada, sendo responsável por mais de um quarto de todas as vagas criadas no Rio Grande do Sul, como demonstrou ontem reportagem de Zero Hora.
O planeta está à beira de uma nova e inevitável revolução econômica, desta vez produzida pela inteligência artificial e o 5G
Ainda que o trabalho intermitente não seja a situação ideal de emprego pleno, para aqueles que estão parados ou vivem na informalidade a alternativa é uma bem-vinda novidade embutida na reforma trabalhista do governo Temer e que começa agora a produzir seus frutos. O trabalho intermitente substituiu, na prática, o antigo "bico", por permitir jornadas e salários flexíveis, de acordo com as características da atividade, e, ao mesmo tempo, assegurar uma proteção social inexistente na informalidade.
Não há dúvida de que é o crescimento econômico o grande impulsionador do mercado de trabalho – e os sinais emitidos nos últimos meses indicam uma lenta mas firme recuperação da geração de renda. No entanto, não basta mais esperar altas significativas no PIB para contar com a redução do desemprego. Apesar dos avanços legados pela reforma, o Brasil ainda dispõe de um dos mais anacrônicos modelos trabalhistas no planeta, num emaranhado de regras e normas que ignoram em grande medida o novo mundo do trabalho.
O planeta está à beira de uma nova e inevitável revolução econômica, desta vez produzida pela inteligência artificial e o 5G. No Brasil, porém, a discussão ainda se trava, por exemplo, na defesa arraigada da existência de cobradores em ônibus, mesmo com a proposta, em Porto Alegre, de uma transição sem qualquer demissão. De fato, o futuro já aponta para a substituição da própria atividade de motorista.
O Brasil e seus milhões de jovens e trabalhadores de baixa qualificação se verão inevitavelmente no olho do furacão da revolução que está a caminho. O país pode ignorar a transformação em gestação e pagar um preço altíssimo nas próximas gerações, ou começar agora a mexer mais profundamente nas suas relações trabalhistas e a preparar a reconversão e a formação da mão de obra para esse novo mundo.
O que se fizer ou se deixar de fazer agora se recolherá ou se pagará mais à frente.