Greves de professores públicos não são uma exclusividade do Rio Grande do Sul – em muitos Estados e em outros países, a categoria volta e meia decide suspender, total ou parcialmente, as aulas em busca do atendimento de suas reivindicações. Em todas essas paralisações, há algumas semelhanças, e a primeira delas é que, historicamente, greves do magistério causam prejuízos a dois públicos já debilitados: os estudantes e os próprios professores grevistas, muitas vezes compelidos a comprometer a rotina familiar para atender à obrigatória recuperação do calendário escolar.
No último trimestre de 2019, uma greve de professores abalou Chicago, deixando 300 mil alunos sem aulas. Foi a mais longa paralisação do magistério na cidade em décadas – durou 11 dias, um período fugaz diante dos 50 dias sem aulas em algumas escolas gaúchas. No final, os professores de Chicago obtiveram o atendimento parcial de suas reivindicações: a redução gradual no número de alunos por sala e um reajuste de 16% escalonado pelos próximos cinco anos.
A qualidade do ensino não evoluiu na necessidade e velocidade exigidas pelo mundo contemporâneo
No Rio Grande do Sul, a constância das greves ao longo das últimas quatro décadas gerou uma natural perda de impacto da iniciativa e não logrou mudar para melhor o quadro da educação pública. Depois de dezenas de greves, muitas delas por meses a fio, professores se mostram ainda mais insatisfeitos e desapontados com a carreira e a qualidade do ensino não evoluiu na necessidade e velocidade exigidas pelo mundo contemporâneo. Mais desalentador ainda: pais preocupados com tantas paralisações e seus efeitos sobre o aprendizado e o calendário fazem o possível para transferir seus filhos para escolas particulares. Ou seja, as greves acabam por esvaziar ainda mais a escola pública e afetar na prática o segmento mais vulnerável da sociedade – os filhos de famílias sem condições de pagar pelo ensino privado.
Professores públicos têm muito do que reclamar, a começar pela baixa valorização da carreira, em comparação com a nobreza da atividade em outros países. Também têm toda a razão em se preocupar com a violência e a indisciplina nas salas de aula, frutos de uma deterioração dos valores na sociedade e da erosão do respeito pela escola. É certo que não haverá transformação na educação se não for solucionada essa equação: professores desestimulados e falta de prioridade real das políticas públicas à educação não conseguirão reverter esse quadro de dificuldades. Mas a saída, como se pode constatar há quatro décadas, não está em novas e extensas paralisações. O diálogo construtivo permanente e a pressão positiva da sociedade para corrigir os desvios que atingem a atividade educacional podem ser muito mais produtivos do que deixar milhares de alunos sem aulas.