Por Igor Oliveira, consultor empresarial
A prisão de membros da organização social Projeto Saúde e Alegria (PSA), com a qual tive a honra de trabalhar em projetos nas áreas de energia limpa e empreendedorismo digital, é um fato gravíssimo, um sinal estarrecedor de autoritarismo no Brasil.
Com base em um mandado de busca e apreensão genérico, a Polícia Civil do Pará retirou da sede da instituição equipamentos essenciais para seu funcionamento, às vésperas de um mutirão de cirurgias que seria realizado pela ONG.
A operação teve como pretexto os incêndios em Alter do Chão, que foram objeto do combate de brigadistas voluntários formados pelo Saúde e Alegria. Uma tentativa vã de criar um factoide que reforce os absurdos ditos por membros do governo federal a respeito da suposta participação de ONGs em incêndios florestais. Os funcionários presos estão entre os responsáveis pelo programa de treinamento de brigadistas operado pelo PSA.
Não há qualquer evidência de participação de organizações sem fins lucrativos na criação de incêndios. Ao contrário, muitas delas lutam contra as causas desses incêndios ou atuam em ações emergenciais de combate. Todos os indícios divulgados até agora pelas autoridades apontam para a participação de grileiros nos fogos anormalmente grandes e frequentes que assolam o bioma amazônico. O MPF já questionou a ação da Polícia Civil e endossou uma investigação federal que aponta para o avanço ilegal da ocupação de terras como causa dos incêndios.
Vale ressaltar que o PSA é uma organização reconhecida nacional e internacionalmente pelo seu trabalho amplo e sistêmico, que começou na área da saúde comunitária e hoje espalha-se por diversos campos do desenvolvimento social e humano. Atua em parceria com empresas, fundações privadas nacionais e internacionais, além de governos de diversas matizes partidárias.
O governo segue utilizando táticas de desinformação e de avanço gradual do autoritarismo, na tentativa de criar uma nova normalidade em matéria de desrespeito ao Estado de Direito e às instituições democráticas em todo o país. Estamos presenciando a tomada gradual do poder por um pequeno grupo de pessoas com viés autoritário, que implementam aos poucos um Estado policial que ainda enfrenta resistência das instituições. Resta saber até quando vamos conseguir resistir.