Por Esther Pillar Grossi, ex-deputada federal, educadora, presidente e coordenadora de pesquisa do Geempa
O Ensino Médio, indiscutivelmente, vai muito mal. Quem dera fosse só o Ensino Médio.
Da educação infantil à universidade, o que interessa – a aprendizagem dos alunos – deixa muito a desejar.
O Ensino Médio, que é vivido por adolescentes, período crucial na vida, merece um olhar superatento. Particularmente, hoje, marcado por alto índice de suicídios. É tremendo – meninos e meninas de 12, 13, 14 anos, deprimidos, não mais encontrando razões para viver.
Então, o que propõe o governo? Alterações absolutamente periféricas ao núcleo do problema.
Entre essas, algumas um tanto quanto inocentes, porém outras nitidamente tendenciosas, tais como privatização, ensino a distância, supressão de sociologia, filosofia, artes.
Ignora-se o equívoco fundamental – o de confundir a lógica do processo de aprender com a lógica dos conteúdos que se busca ensinar.
Efetivamente, aprender está relacionado àquilo que afeta quem aprende, porque o cérebro só registra o que emociona e o prazer é a energia da ação.
Porém, não são os alunos que podem decidir o que lhes afeta, uma vez que eles não têm ideia das riquezas do patrimônio científico, cultural e artístico já construído. Eles precisam dele se apropriar como seus legítimos herdeiros, responsáveis por zelá-lo e ampliá-lo. Compete aos professores suscitar nos alunos o desejo de conhecê-lo, criando situações verdadeiramente motivadoras, diferentes de aulas expositivas, que tão dolorosamente ainda dominam a cena escolar.
Ignora-se que aprender é um fenômeno intrinsecamente social, pois aprendemos com os outros. Com quem sabe mais do que nós, com quem sabe mais ou menos o mesmo que nós.
Essa dimensão social do aprender é tão visceralmente importante, porque, nos momentos mais decisivos desse processo, se aprende mais com colegas do que com o professor. Segue-se daí que a organização de pequenos grupos na sala de aula é essencial. Extinga-se fila de alunos escutando passivamente o professor.
Essa aula expositiva também é inadequada porque ela ignora que a primeira fase de toda construção de conhecimentos tem a ver mais com o "fazer" do que com o "dizer". Tal constatação exige a inversão da estrutura convencional da didática, até dos livros escolares – primeiro a teoria, depois os exercícios sobre ela.
Essas são verdadeiras essencialidades de uma reforma do Ensino Médio, tanto acadêmico quanto profissionalizante.