Por Thaisa Storchi Bergmann, pesquisadora IA – CNPq e chefe do Grupo de Pesquisa em Astrofísica da UFRGS
Estamos na iminência da interrupção de cerca de 80 mil bolsas de pesquisa do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E isto é gravíssimo. No Brasil, a grande maioria dos projetos de pesquisa – em todas as áreas do conhecimento – dependem do trabalho de bolsistas que por sua vez dependem destas bolsas para custear seus estudos e mesmo sua sobrevivência nos caso de bolsistas de pós-graduação. A pesquisa vai parar se não acharmos uma solução emergencial para o orçamento do CNPq deste ano e aumento do seu orçamento do ano que vem. Neste ano, são cerca de R$330 milhões de reais que precisamos para cobrir 4 meses de bolsas de 80 mil pessoas. Para se olhar isto em perspectiva, notamos que esta verba é uma fração muito pequena do que foi recentemente gasto com emendas parlamentares!
Somente através destas bolsas podemos manter os alunos e pesquisadores fazendo a pesquisa do dia a dia, executando e controlando experimentos, desenvolvendo novas teorias, análise numéricas, descobrindo desde a cura de doenças até novos mundos, o que é feito nas universidades e institutos de pesquisa. O apoio do CNPq também tem sido fundamental para manter e comprar novos equipamentos e material de consumo. Sem este apoio, anos de investimento para criar grupos de excelência serão simplesmente jogados no lixo. Uma catástrofe para o progresso científico do país. O futuro de um país depende do investimento em educação e ciência. Um exemplo aplicável ao Brasil é um paralelo com a Coreia do Sul, que tinha, há uns 30 anos, qualidade comparável com a do Brasil. Já faz alguns anos que a Coreia do Sul passou do Brasil em desempenho científico, numa correlação perfeita com um maior investimento que fizeram em ciência naquele país, dedicando mais verba, de forma constante, prevista na lei, para a ciência. E o sinônimo da ciência brasileira é o CNPq.
Para trazer resultados práticos e de avanço do conhecimento, a pesquisa precisa ter continuidade de anos seguidos de investimento. Um pesquisador leva de oito a 10 anos após a graduação para ser formado. Se for interrompido o investimento, anos já investidos serão perdidos, e isto não será recuperado facilmente. Perderemos nossa competitividade internacional, e mais cérebros sairão do Brasil. É isto que queremos para o futuro do Brasil?