Por Stephen Doral Stefani, médico

Provavelmente a maioria das pessoas ilustradas para compreender a gravidade do tema também tem o privilégio de passar a maior parte do tempo em ambientes climatizados e protegidos. A dura realidade é que lá fora a escalada sem precedentes de poluição por queima de combustível fóssil, aumento da temperatura global e intensificação de condições climáticas extremas têm repercussão na nossa saúde.
Essa miríade de doenças, desde alergias até aumento de risco de doenças cardiovasculares e câncer, mais impacta nos mais vulneráveis, como crianças, idosos e pobres.
É um problema de saúde pública. Estudo realizado em mais de 650 cidades do planeta e recentemente publicado na importante revista médica New England Journal of Medicine, confirma a correlação entre níveis de partículas poluentes no ar e morbimortalidade.
Viver em cidades poluídas é um fator de risco independente para morrer precocemente. Existe possibilidade importante, também, de que nem sequer se conheça exatamente o impacto do cenário em algumas condições médicas ainda não listadas, o que remete para necessidade de mais pesquisa na área. Não temos soluções simples e rápidas, mas temos que indicar direções nas quais precisamos nos mover para criar uma resposta baseada em dados para proteger a saúde dos pacientes e a resiliência de nossos sistemas de saúde. Infelizmente o tema tem componente ideológico e político que parece não levar a ações práticas. Gasta-se muita energia em discussões partidárias, o que afasta uma imensa quantidade de pessoas que poderiam contribuir para soluções.
Movimentos importantes como mobilização em torno da aida e contra guerras são apontados como modelos a serem adotados. Podemos começar com um senso de urgência: a Organização das Nações Unidas estima impacto catastrófico para saúde coletiva em pouco mais de uma década. O futuro é logo ali, e já dizia o escritor Antoine de Saint Exupéry, não é uma questão de prevê-lo, mas de fazê-lo possível.