Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Apesar de parecer inacreditável, quase surreal, o comportamento do atual presidente do país, a depender do ponto de vista e do lugar de fala pode ser até relativamente simples entender as motivações de Jair Bolsonaro. Entrevistado anos atrás, depois de dizer que o ex-presidente FHC deveria ser fuzilado, Bolsonaro disse algo como “se eu não tivesse dito isso, eu jamais teria sido chamado para dar uma entrevista neste programa”. Se ele pensava que Fernando Henrique deveria ser fuzilado importava menos do que saber a atenção que atrairia.
Mas há outro modo de explicar a maneira bolsonaro de governar. Quem explica não sou eu, mas Saul Alinsky. Nascido em 1909 e falecido em 1972, Alinsky é tido como o pai dos métodos modernos de organização comunitária. Hillary Clinton escreveu uma tese sobre ele intitulada, ilustrativamente, “Há apenas a luta”. Para ele, Lúcifer – sim, o diabo – foi o primeiro radical a se rebelar contra um establishment e conquistar seu próprio reino. Em seu livro Rules for Radicals (Regras para radicais – guia pragmático para radicais realistas, não editado em português), Alinsky enumera 13 regras para um radical desafiar o sistema. Basta olhar com atenção para cada uma delas para se entender de onde saiu o manual de conduta do presidente brasileiro.
A primeira regra é: poder não é apenas o que você tem, mas o que o inimigo pensa que você tem. A segunda regra recomenda nunca se ir além da experiência de seu grupo. A terceira regra diz que, sempre que possível, vá além da experiência do inimigo. Aqui você quer causar confusão, medo e retirada. A quarta regra é fazer o inimigo viver de acordo com seu próprio livro de regras. E essa quarta regra carrega dentro de si a quinta regra: expor o inimigo ao ridículo é a arma mais poderosa do homem. Já a sexta regra diz que uma boa tática é aquela de que o seu grupo gosta (olha as redes sociais aí). A sétima regra avisa que a tática que se arrasta tempo demais torna-se uma chatice.
A oitava regra é clara: mantenha a pressão. A nona regra afirma que a ameaça é normalmente mais aterrorizante do que a própria ação em si. A 10ª regra afirma que a principal premissa para a tática é o desenvolvimento de operações que irão manter uma pressão constante sobre a oposição.
Atentem para a 11ª regra: se você fizer uma acusação gravíssima, irá despedaçar a oposição (lembra alguma coisa?). A 12ª regra: o preço de um ataque bem-sucedido é uma alternativa construtiva. E a última regra recomenda: escolha o alvo, congele-o, personalize-o e polarize-o.
Outro livro que poderíamos usar para explicar o atual governo do país é de Arthur Schopenhauer: Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão. Mas aí já é assunto para outra coluna.