Por Lelei Teixeira, jornalista
Precisamos acordar. O que aí está extrapola qualquer limite. A negação da realidade preocupa. Não há fome. Desnutrição é delírio. A obesidade é o problema. Educação não é prioridade. Censura, sim. A ciência, a pesquisa e a arte são desnecessárias. Crianças podem ser agredidas, assim como mulheres, homossexuais ou qualquer pessoa que ouse ser diferente. A homofobia é legítima, em nome da tradicional família brasileira. A hipocrisia está dada.
Os negros precisam voltar para a senzala. Os defensores do meio ambiente banidos. Os agrotóxicos liberados. As terras indígenas confiscadas e entregues ao poder de vorazes agricultores e seus venenos. A Amazônia não é nossa. O Nordeste se posiciona e perde recursos. Não se torturou no Brasil. A diplomacia é mero acessório. Governo é nas redes sociais, enquanto o país se perde.
O descaso com os direitos da população, aliado à apologia da violência, nega conquistas importantes das minorias desassistidas. O objetivo é apagar vozes dissonantes. Empurrá-las para o lugar da não-participação. Um país sem voz é fácil de dominar. Perdemos a capacidade de olhar para o outro. Humanidade e respeito por quem e para quê? A discriminação imposta vem de uma construção cruel, fundamentada no poder pelo poder, sem projeto.
A realidade exaure e não dá trégua. No Planalto Central, um Congresso formado por maioria inescrupulosa decide o futuro da nação com olhos devoradores voltados para umbigos ambiciosos. Bilhões escorrem por mãos irresponsáveis, passam pelas vias mais sórdidas, compram silêncio, poder, conveniência e enchem instituições financeiras e bolsos já cheios. Enquanto isso, trabalhadores e aposentados são apontados como os únicos responsáveis pela crise da previdência social. E se recomenda encolher direitos, salários e gastos sociais, penalizando ainda mais os que já têm tão pouco. Para alinhar os descaminhos do Brasil, anula-se o humano. Anula-se a democracia. Uma anestesia nos paralisa e a palavra civilização perde o sentido.