Por Odorico Roman, conselheiro do Grêmio FBPA
Em quantos segundos Usain Bolt conseguiria percorrer 100 metros, correndo com os braços atrás das costas? Certamente, num tempo significativamente maior do que os 9,58 segundos registrados no seu recorde mundial. Mover os braços dá velocidade ao corpo e equilíbrio aos movimentos. Braços e mãos dão causa a grandes discussões no futebol, um esporte no qual a velocidade ganha importância crescente.
Nem mesmo o uso do VAR foi capaz de remover as polêmicas causadas pela tortuosa relação da mão com a bola na grande área defensiva. Ou da axila com a bola, como foi o caso na última final da Champions League. Parte delas se deve à proliferação de interpretações errôneas da Regra 12. Nela, se definia: "Tocar a bola com as mãos implica o ato deliberado de um jogador tocar a bola com as mãos ou com os braços". E complementava: "Devem ser considerados os seguintes critérios: o movimento da mão em direção à bola (e não a bola em direção à mão); a distância entre o jogador e a bola (bola inesperada); a posição da mão não pressupõe necessariamente uma infração".
O entendimento equivocado da claríssima regra derivou para justificativas apoiadas em expressões como "posição natural do braço", "ampliação do volume do corpo" e "assumiu o risco". A posição "natural" do braço de um jogador em velocidade é a de pêndulo, por vezes afastado do corpo. Ou existe cena mais antinatural do que zagueiros correndo com os braços escondidos nas costas? Ao agir para corrigir as polêmicas, a FIFA incorporou a subjetividade à regra e vai perenizar a sua aplicação sem critérios uniformes. Se os árbitros fossem orientados a seguirem rigorosamente o que dizia a regra válida até 2018, o uso da tecnologia de vídeo daria condições plenas de análise dos fatores relevantes: ato deliberado, movimento da mão em direção à bola, distância entre o jogador e a bola e movimento antinatural do braço.
Do jeito que ficou, nem o VAR salva. Ao contrário, ele passará de corretor de erros claros do árbitro de campo a fomentador das polêmicas envolvendo a pena mais decisiva do futebol, conhecida como penalidade máxima.