Por Cléo Kuhn, meteorologista do Grupo RBS
O inverno começa dia 21 e o que todos se perguntam é: cadê o frio? Onde estão as temperaturas desta época do ano no sul do Brasil? Pois bem, amigos, este é ano de El Niño, com muita chuva, como já vimos nos últimos dois meses, e agora excesso de umidade, que estamos sentido e ainda vamos ter no próximos dias. Isto faz o efeito estufa, que mantém a temperatura homogênea. Não aquece em demasia e, ao mesmo tempo, não esfria porque a superfície da terra não perde calor pelo efeito de tampão que esta umidade provoca.
Neste ano, é isto que a atmosfera nos oferece: pouco frio, com muita umidade. E parece que isto vai longe. Vários prognósticos estendem esta umidade para além do inverno. Seguirá na primavera. Aí então teremos alguns complicadores a mais. O primeiro é em relação à nossa saúde. Basta andarmos na rua e veremos que grande parte da população sente os efeitos nocivos desta umidade. Mas tem um segundo efeito, na agricultura. Sem frio mais intenso, muitas árvores frutíferas vão sentir as consequências daqui a alguns meses. O excesso de umidade também castiga o nosso trigo. E, mantendo-se este quadro para a primavera, pode afetar ainda a soja e o arroz, bem como outras culturas.
Há mais uma causa que se sobrepõe às anteriormente citadas: as mudanças climáticas. De onde vêm as nossas massas de ar frio? Do Polo Sul, com certeza. Mas este polo está cada vez menos frio. Degela a passos acelerados. As massas de ar frio em geral vinham do Pacifico, atravessavam a Cordilheira dos Andes e chegavam fortes até nós. Hoje, elas estão do lado de lá da cordilheira, e sem muita intensidade, a não ser no sul do Chile. As massas de ar frio que alcançam o Estado vêm do sul do Atlântico, e chegam por aqui muito úmidas por se deslocarem por sobre o mar em uma distância enorme. Em geral, trazem mais umidade do que frio.
Até quando vai isto é boa pergunta, que só o tempo dirá.