Renato Silvano Pulz, médico veterinário, professor da disciplina Bem-estar animal, advogado com Especialização em Direito Ambiental
Em "O avesso das coisas", Drummond escreveu: no zoológico os animais não vivem; são vividos pelos olhos do visitante. O destino do zoológico de Sapucaia do Sul cria um espaço de debate sobre o tema. Os zoológicos vêm sofrendo críticas, sobretudo no que diz respeito aos direitos animais, pela retirada de seus habitat, pelo confinamento e pelo estresse da visitação. A crise dos zoológicos não é só financeira, mas também moral.
Os interessados na sua manutenção argumentam que, além de entretenimento, são locais dedicados a pesquisa, a conservação e a educação ambiental. Entretanto, a maioria dos zoos brasileiros está em condições inadequadas, o que refletiria no resultado de qualquer pesquisa. Ainda que não fossem espaços precários, os achados ficam comprometidos pelo fato de analisar no cativeiro um animal de vida livre. No quesito educação ambiental, a contradição fica ainda maior: o direito à liberdade não deveria ser a mensagem principal? Que educação pode advir da prisão de animais retirados de seu ambiente original?
A conservação das espécies se dá pela preservação do meio ambiente. Retirar animais da vida livre e confiná-los é decisão moralmente questionável, mesmo que travestida de boa intenção. A natureza dos animais é totalmente desconsiderada. Mas, sem dúvida, o argumento mais importante contra os zoos é o sofrimento físico e psicológico ao qual são submetidos os animais, seja na captura, seja no confinamento, quando se consomem pelo tédio e pelo isolamento, longe de onde poderiam expressar o comportamento da espécie. A única função aceitável é a guarda e a reabilitação de animais silvestres apreendidos do tráfico ou de maus-tratos, sendo que o conceito, nesse caso, seria o de santuário.
O costume de ir ao zoológico, naturalizado desde a nossa infância, no passado mais distante incluiu a exposição de seres humanos considerados exóticos. Felizmente as sociedades se reinventam e até mesmo evoluem.