Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre
A celebração da Páscoa cristã tem suas raízes na tradição judaica. Em sua origem histórica, a Páscoa era celebração de pastores. À noite, o pai reunia a família para uma ceia, cujo prato principal era um cordeiro de um ano de idade, assado. O sangue do animal era usado para assinalar os portais das casas, como sinal de proteção contra o mal.
O ritual da Páscoa está também relacionado à libertação do povo judeu da escravidão do Egito. Desde os primórdios, a comunidade judaica, anualmente, celebra, em torno da mesa, em família, a libertação do poder do faraó do Egito.
No Novo Testamento, a paixão e a morte de Jesus ocorrem no contexto das celebrações judaicas da Páscoa. A significação da morte de Jesus é marcada pela simbologia pascal. A fé cristã encontra seu fundamento no mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
A Páscoa da ressurreição, segundo S. Bernardo, significa "passagem" e não "regresso", porque Jesus não voltou à situação anterior, mas "ultrapassou uma fronteira para uma condição mais gloriosa", nova e definitiva. E acrescenta: "Agora, o Cristo passou verdadeiramente para uma vida nova".
Os acontecimentos da morte e da ressurreição de Jesus, "passagem para uma vida nova", constituem o núcleo da fé cristã. Esses acontecimentos são a referência central da vida e missão da Igreja. Por isso, a comunidade cristã, celebrando a Páscoa, recorda os feitos do passado, celebra a paixão e ressurreição de seu Senhor e caminha em direção ao futuro, empenhada na construção de novos céus e nova Terra, pois o mistério da "pedra descartada" se tornou o fundamento da própria existência.
Celebrando a Páscoa, somos convidados a reconhecer no mistério celebrado a oportunidade para compreender a própria dignidade e vocação. Diante de um Deus que ama ilimitadamente, ninguém mais pode descartar e nem ser descartado, pois "o amor é mais forte do que a morte" (Ct 8,6)!
Na Cruz, o pecado e a morte são vencidos! Cristo ressuscitou! Abençoada e Santa Páscoa!