Por Sérgio da Costa Franco, historiador
Estas duas expressões – esquerda e direita –, que ao longo do tempo assumiram um duvidoso significado ideológico e político, nasceram na França apenas para significar a posição de bancadas no parlamento. Mas, como os radicais de inclinação revolucionária se instalavam à esquerda e os de tendência conservadora à direita, tais conceitos se consolidaram arbitrariamente na semântica política.
Houve momento em que o pensamento socialista era identificado como a Esquerda e os defensores da ordem capitalista ficaram, em oposição, rotulados como direitistas. Porém, tais conceitos foram perdendo seu significado quando os liberais puros evoluíram para a socialdemocracia e esta se tornou, pela planificação econômica, um meio termo conciliador entre a livre iniciativa e o socialismo democrático, de que são exemplos notórios os países escandinavos. Em grau menor, trabalhistas e progressistas também contribuíram para fazer caducar a antinomia de Direita e Esquerda.
Como a democracia populista e, sobretudo, o "marketing" político permitem a emergência eventual de personalidades provocadoras e perturbadoras da normalidade, vemos agora surgir um pretenso guru do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos, o jornalista Olavo de Carvalho, acenando desde longe, comodamente alojado nos Estados Unidos, com uma virada do país para uma Direita. E ele não explica qual seja: se uma ditadura sanguinária, reformista e conservadora, ou se uma república aristocrática em que só tenham direito de voto os titulares de bons rendimentos.
Teríamos talvez uma regressão ao Segundo Império, com os cidadãos pobres e os libertos excluídos da cidadania. E, dado que a Princesa Isabel, que decretou a liberdade dos escravos, causando sério dano ao patrimônio privado, deve estar arrolada entre a Esquerda brasileira, não é impossível que Olavo de Carvalho pretenda até a revogação da Lei Áurea...