Um país com índices tão elevados de evasão escolar e de jovens que deixam a escola sem habilidades mínimas em matemática e língua portuguesa como o Brasil não poderia aceitar com tanta naturalidade as divisões que marcam hoje o Ministério da Educação.
Quase três meses após o início do governo, não há qualquer indício de um plano educacional consistente à vista. Em vez de concentrar esforços para cumprir as promessas de melhoria do Ensino Básico feitas durante a campanha, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez gasta energia desmontando e remontando a equipe diretiva do MEC. Mudanças que obedecem tão só a pressões de caráter ideológico sob influência do escritor Olavo de Carvalho, que atua diretamente da Virgínia, nos Estados Unidos.
É um engano imaginar que o desaparelhamento da educação será, por si só, suficiente para resolver a tragédia educacional brasileira. Sem dúvida, o país foi e é bastante influenciado pelo ativismo ideológico de esquerda nas universidades, especialmente nas públicas. Ainda assim, isso não pode ser motivo de perseguição para não se incorrer no mesmo equívoco da esquerda contra pensamentos dissidentes no ambiente acadêmico no passado.
O que o Brasil precisa é concentrar energias não em discussões secundárias, mas no essencial, que é imprimir mais qualidade à educação, adequando o ensino às necessidades atuais. É preciso romper com a paralisia nessa área e definir planos que possam ir além de interesses eventuais de quem está no governo ou na oposição, voltados para as necessidades dos alunos.
Enfrentamos uma crise não na educação, mas de aprendizagem. Uma situação que não será corrigida apenas com a volta da obrigatoriedade do hino nas escolas ou com a promessa de acabar com influências partidárias nas instituições de ensino. A saída para garantir avanços continuados inclui mudanças na formação docente e também investimentos na primeira infância, que são pressupostos para o país e o Estado reduzirem as deficiências na aquisição do conhecimento. O Brasil não pode esperar mais para fazer com que os alunos concluam o Ensino Básico preparados para atuar como cidadãos e em condições mínimas de disputar uma vaga no mercado de trabalho.
Com tantos desafios pela frente, é mais do que urgente que o ministro Vélez Rodríguez entenda que a educação brasileira tem prioridades claras, para as quais, até agora, infelizmente, não foram apontados caminhos.