Por Mônica Leal, Jornalista, vereadora (PP) e presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre
Recordo perfeitamente como foi meu dia 15 de março de 2018, quando o Brasil acordava com a notícia estarrecedora do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, na noite anterior. Lembro que me senti levando um balde de água fria e vendo escorrer a luta diária de todas as mulheres que dão voz a outras mulheres através do trabalho político.
Naquela manhã, numa programação alusiva ao Dia Internacional da Mulher, a Câmara Municipal de Porto Alegre realizava um debate com o tema "Por mais mulheres na política". Nos reunimos para afirmar que precisamos ser mais e muitas, mas havíamos perdido uma, e uma a menos já faz muita falta.
Quando degraus estão sendo vencidos, quando a dura caminhada feminina começa a parecer mais segura e firme, um impacto dessa dimensão abala, revolta e faz refletir.
O combate ao racismo, às injustiças, à corrupção e à impunidade é algo que deveria ser coletivo. Há causas que ficam acima de siglas partidárias, ideologias e interesses, não pertencendo a um lado ou a outro. Marielle, por meio de seu mandato, promovia este combate. Foi morta por causa disso?
O trabalho parlamentar exige coragem, mas não podemos trabalhar pelo outro, pela melhoria do país e pelo bem comum com medo. A liberdade política encontra paralelo na liberdade de imprensa. O registro frequente de mortes de jornalistas, mesmo fora da cobertura de conflitos e guerras, lança uma grande sombra sobre essa liberdade. Muitas vezes, são mortos por denunciarem ilicitudes, por mexerem com o que "não devem". A intenção é calar a imprensa, mas se entristece a democracia. Há países em que o risco de assassinato é visto como um limitador para o pleno ofício do jornalismo. Espero que o Brasil não figure entre eles e que esse dado inadmissível também jamais se estabeleça para o exercício político.
Quase na véspera da data que marca este um ano sem Marielle, dois suspeitos são presos no Rio de Janeiro, após investigações, outras prisões, delações, erros, e acertos, mas ainda sem a elucidação do covarde crime. Os tiros que a acertaram, atingiram a todos nós e ecoam até agora.