O presidente Jair Bolsonaro terá nesta semana, em Davos, na Suíça, a sua única oportunidade de causar a primeira impressão. Os olhos e os ouvidos do mundo estarão atentos aos sinais do governo brasileiro no Fórum Econômico Mundial, neste ano esvaziado, mas nem por isso irrelevante.
Donald Trump e Emmanuel Macron, por exemplo, não comparecerão, por conta de crises internas. Mas lá, entre os dias 22 e 25, estarão outros 3 mil líderes políticos e empresariais, inclusive americanos e franceses, representando boa parte do PIB planetário.
A pauta do governo Bolsonaro, elaborada sob a batuta do ministro da Economia, Paulo Guedes, é positiva. A intenção é mostrar ao mundo um novo país, que busca protagonismo no comércio mundial. Para tanto, acena com redução de impostos e desburocratização, fatores que, uma vez implementados, aumentarão automaticamente a competitividade das empresas brasileiras e o interesse dos investidores estrangeiros.
Bolsonaro e Guedes desembarcam na Suíça em um momento crucial, quando a globalização, apontada na década de 1990 como a panaceia econômica do planeta, enfrenta fortes e legítimos questionamentos. O recrudescimento do nacionalismo, que também inspira Bolsonaro, desenha novos pontos de interrogação no tabuleiro das nações. O maior deles se traduz no desafio de conciliar relações comerciais livres com a ascendente onda de economias mais fechadas em si mesmas, que tem hoje, nos Estados Unidos, o seu maior expoente.
É justamente esse cenário que se apresenta como oportunidade para o Brasil. A promessa de relações comerciais "sem viés ideológico" é outro sinal positivo se aplicado de forma ética e correta. Pressões econômicas, quando possíveis, são sempre melhores e mais efetivas do que as guerras. Mesmo que o Brasil, pela sua dimensão diplomática ainda acanhada, não seja protagonista nesse tipo de embate, não se pode descartar a legitimidade de sanções impostas a ditaduras, sejam elas de direita, de esquerda ou religiosas.
Por mais paradoxal que pareça, a ausência de alguns líderes importantes em Davos abre espaço para a nova agenda do Brasil, a que saiu democraticamente vitoriosa das urnas em outubro do ano passado.
Para o Rio Grande do Sul, a viagem de Bolsonaro tem um outro componente específico de relevância. Durante a ausência do presidente, o vice gaúcho, Antônio Mourão, assumirá interinamente a Presidência pela primeira vez, período já iniciado na noite de domingo. Mourão avisou que será discreto, como manda a liturgia da função. O sucesso de ambos em suas missões será o sucesso do Brasil.