Embora facilitem a mobilidade urbana, garantindo preços mais acessíveis aos usuários, as plataformas de transporte poderiam fazer mais para ajudar a proteger aqueles que dirigem os veículos, como pediu o protesto de centenas de motoristas de aplicativos, ontem, em Porto Alegre.
Desde a virada de ano, pelo menos dois condutores foram mortos e um baleado durante assalto. A onda de violência contra os profissionais mostra que as empresas do setor, boa parte com abrangência global, estão atrasadas na adaptação às condições locais.
É compreensível que, no contexto em que foram criadas, não se imaginasse a atividade dessas plataformas em uma cidade com grau de violência registrado em Porto Alegre. Mas o número de roubos e latrocínios na capital gaúcha ao longo do último ano é uma clara evidência de que uma regra que vale para Copenhague não deve necessariamente valer para uma cidade latino-americana de mesmo porte.
É o caso de pagamento em dinheiro. Os aplicativos começaram a funcionar somente com cartões de crédito – o Cabify segue assim, mas desde que a Uber passou a aceitar dinheiro, os motoristas se transformaram em alvos. Fragilidades tecnológicas da ferramenta facilitam aos bandidos, com a garantia de que não serão identificados, procurem condutores com menos experiência e com carros fáceis de serem repassados no mercado paralelo.
Seria o caso de suspender, mesmo que provisoriamente, os pagamentos em dinheiro. E permitir que somente pessoas com cadastro conferido por recursos de segurança eficientes e já existentes, por exemplo, no sistema bancário, pudessem requisitar corridas. A exigência de envio de cópia de documentos do cliente no momento do registro é uma medida de proteção que merece ser considerada. Uma providência extra para evitar que condutores em busca de renda acabem ainda mais expostos à criminalidade, que é generalizada, mas que pode ser enfrentada com mais eficiência pelas empresas de transporte privado urbano.
Os recentes episódios de violência devem estimular as plataformas de transporte a rever suas regras internacionais, de maneira a colaborar ativa e rapidamente com a polícia quando há suspeita de crime envolvendo motoristas - sejam eles assaltados ou sequestrados ou a serviço, voluntário ou não, de traficantes e facções.
O desemprego e a falta de perspectivas empurram legiões de pessoas para a direção de veículos de aplicativos. Eles, e suas famílias, não podem mais viver reféns de um medo que poderia ser evitado.