Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Com as eleições e a crise, pouco repercutiu a premiação do Nobel de Economia, compartilhado entre William D. Nordhaus e Paul M. Romer. Antes que 2019 chegue: o primeiro se deve a estudos sobre economia ambiental, principalmente sobre o impacto das mudanças climáticas na economia. O segundo, por pesquisas sobre as variáveis determinantes do crescimento de longo prazo, como tecnologia, conhecimento e inovações.
Os trabalhos de ambos não são, a rigor, pioneiros, sem apoucar sua importância. A relação entre crescimento, natureza e economia começou com a primeira escola reconhecidamente econômica — a Fisiocracia francesa do século 18. Os estudos sobre poluição e seu impacto econômico são pouco debatidos na academia brasileira, ao contrário do que ocorre no Primeiro Mundo. Autores tradicionais como Pigou, no século passado, preocuparam-se com a “externalidade negativa” causada pela degradação ambiental. Já no Brasil, Celso Furtado, em O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974), alertava para a incapacidade física de o planeta suportar a generalização do padrão de vida e do gasto de energia per capita dos EUA (e a pensar, hoje, com o ritmo de crescimento e o quase 1,4 bilhão de habitantes da China).
Todavia, a concessão do prêmio traz consigo um recado político quando, mais do que nunca, os EUA (e agora o Brasil) sugerem não reconhecer as mudanças climáticas como problema. Os premiados não são esquerdistas nem radicais: alinham-se ao chamado “crescimento sustentável”, são tidos como moderados e até conservadores, pelo menos no critério dos ambientalistas mais afoitos. Seus trabalhos impactaram tanto pelo rigor analítico quanto por suas consequências. O de Nordhaus, por exemplo, influenciou a adoção de imposto sobre carbono emitido na atmosfera, encampada pelo Acordo de Paris e em vigor em vários países europeus. Os liberais mais radicais, é claro, criticaram a medida como nova interferência do governo na economia, enquanto a esquerda não digeriu bem a fórmula de que “pagando se pode poluir”. Todo caso, o imposto fala na linguagem que o mercado entende — o dinheiro — e, goste-se ou não, é uma das poucas medidas práticas adotadas até agora para enfrentar o problema. O prêmio chancela o debate e as pesquisas qualificadas.