A variação do custo de vida nunca esteve em patamares tão reduzidos nos últimos meses, mas o consumidor não tem conseguido perceber os efeitos no bolso. A situação ocorre porque os brasileiros têm dificuldade para visualizar a contenção dos preços nos supermercados, mas percebem com clareza uma elevação em níveis preocupantes nas tarifas administradas pelo governo – o que, em âmbito federal, inclui energia elétrica e combustíveis, entre outras. O descompasso serve de alerta para o governo, que precisa manter sua política de preços em dia, mas sem deixar de buscar mais eficiência para reduzir o ônus de famílias às voltas com o desemprego ou com o represamento de salários.
O balanço dos números confirma uma impressão generalizada, particularmente entre cidadãos na faixa de menores ganhos: em 2018, pelo segundo ano consecutivo, as tarifas _ reguladas pelo governo, e cuja variação independe de oferta e demanda – subiram muito acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O aumento foi superior também ao dos preços que variam livremente. De janeiro a agosto, itens administrados subiram 6,64%. É um percentual que corresponde ao dobro da inflação geral e mais de quatro vezes o índice registrado pelos que variam livremente. Como os salários tendem a seguir a inflação, não surpreende que tantos brasileiros enfrentem hoje dificuldade para abastecer seus veículos e pagar em dia contas como a de gás encanado e luz.
Nos últimos anos, principalmente às vésperas de eleições, os brasileiros vêm presenciando frequentes manipulações de tarifas com fins políticos, que acabam impondo um custo elevado demais depois da definição nas urnas. Ao que tudo indica, a prática, pelo menos, não está ocorrendo neste momento. Embora as tarifas devam continuar variando acima do IPCA em 2019, a tendência é de um reequilíbrio nesses dois lados da inflação, o de preços livres e administrados. A explicação está no fato de que os reajustes teriam batido no teto, num cenário de desemprego e ganhos contidos.
Numa economia estável e de livre mercado como pretende ser a brasileira, o ideal seria evitar variação atrelada à inflação passada, o que contribui para reforçar a memória da indexação. Nessas circunstâncias, a preocupação com a prática do realismo tarifário precisa ser permanente, mas sem dar margem a distorções de preços como as enfrentadas no momento pelos consumidores.