Por Carlos Roberto Schwartsmann, médico e professor
Depois de 40 anos lecionando, fiquei chocado e estarrecido ao receber a notícia que não poderia mais expor as notas dos alunos no tradicional mural de avaliações.
Durante décadas, o mesmo foi utilizado como transmissor do desempenho dos estudantes. Os que atingiram o objetivo poderiam ir adiante. Os reprovados deveriam repetir a cadeira.
O argumento da proibição é que os alunos não poderiam ser melindrados ou discriminados.
Na medicina, os alunos são extremamente qualificados. São treinados e testados.
Para ser um bom especialista são necessários no mínimo 9 anos de estudo (6 para graduação e 3 para a especialização).
Para mestrado e doutorado são mais 5.
Nas universidades federais os docentes precisam ter título de doutor e são submetidos a concursos públicos.
É um grande exemplo de meritocracia.
Hoje são acusados de assédio moral. Os docentes seriam exigentes, maus, maltratam e, deixam os alunos estressados!
A medicina é um sacerdócio. Existe muito estudo, muita disciplina, muita dedicação e obstinação. Exige ainda muita sensibilidade, afeto e arte.
Vivemos numa época de distorções e contestações.
Isto decorre da implosão da educação familiar e da paupérrima educação escolar estatal.
O curso de medicina exige grande carga horária. Exige plantões diurnos e noturnos! Nos deparamos com paradas cardíacas, convulsões, ferimentos, fraturas expostas, dor, sangramento e morte!
Digo aos residentes, que trabalham de 14 a 18 horas por dia que, estes são os três anos mais importantes da medicina.
Ninguém reclamou até hoje que não valeu a pena!!!
A residência médica foi criada em 1889 por William Halsted. A nova modalidade exigia que os médicos ficassem 24 horas à disposição. Era necessário residir no hospital.
Em 1972 a American Medical Association classificou este modelo como o "Padrão Ouro" para o aprendizado da medicina.
Diante desta fantástica distorção de valores, em que o aluno agride o professor, ganha a defesa dos pais e a anuência do diretor, não mais me surpreenderá se, em breve, a residência médica seja classificada como assédio moral.