Por Virgínia Veríssimo, coordenadora pedagógica
Conheci o hino de Porto Alegre há 17 anos. Até então, nunca havia tido notícia de que a minha cidade natal tinha um hino. Quando comecei a trabalhar numa escola, surpreendi-me ao ver que as crianças cantavam o hino da escola e da cidade com alegria! Diferente de mim, nos anos de 1970. Eu, dura, braços ao longo do corpo, guarda-pó branco e gravata azul. Era chato cantar um hino do qual mal entendia as palavras. Cantava porque havia decorado: os grilhões que nos forjava da perfídia astuto ardil...
Na Escola Projeto, no aniversário de Porto Alegre, as turmas sempre preparam algo, cantam o hino. Há uns anos, conheci o Breno Eduardo Outeiral, filho do autor do hino da cidade. Contei a ele que as crianças aprendiam a cantá-lo e ele foi à escola. Contou a história da composição: era uma canção sobre a cidade, criada pelo seu pai, que mandou para um concurso nos anos 1960.
A música virou um hino que pode ser cantado pelas crianças em ritmo de rock. Sim, o Breno canta ao estilo Alemão Ronaldo, da Bandaliera. Isso, para quem foi adolescente na cidade nos anos 80, soa bem familiar. Foi bonito observar as lágrimas dele, vendo as crianças cantarem com vibração. Empolgadas por estarem perto do filho do autor de um símbolo da cidade.
Há poucos dias, li uma crítica dura sobre o hino. Ele fala de coisas bonitas da cidade e de sua gente. Temos visto cenas feias por aqui: buracos, verdadeiros condomínios de pessoas que não têm moradia, nas calçadas, paradas de ônibus e canteiros centrais das ruas. Áreas verdes engolidas pelo cimento. O visitante tem deixado mais a carteira e o celular, aqui, do que a vontade de voltar! Talvez o hino possa soar falso, mas não é horrível!
Ninguém me perguntou, mas confidencio: prefiro ver as crianças cantarem com respeito e todo o gás as coisas simples da vida "e quem viu teu sol poente não esquece tal visão, quem viveu com tua gente, deixa aqui o coração", do que entoarem palavras rebuscadas, em vozes impostadas, uma grande mentira: "Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo"!