Por Domício Torres, diretor do IRP - Instituto Reality de Pesquisas, ex-diretor do Ibope
Que cada eleição é uma incógnita em suas nuances, é o óbvio. Só vamos confirmar as várias teses, prognósticos e estratégias quando os resultados forem apurados.
A maioria do eleitorado encara cada eleição como um encargo a ser cumprido e consequentemente não se interessa plenamente pelo contexto que a envolve.
Entre tantos elementos que compõem uma eleição, está a propaganda eleitoral no rádio e na televisão, cuja intenção é esclarecer, dar subsídios ao eleitorado, a fim de que o voto seja racional e objetivo.
Essa intenção não tem sido atingida – e os porquês merecem um estudo
específico e realista – uma vez que testemunhais, pesquisas de opinião e pesquisas de audiência revelam o desinteresse do eleitor por essa propaganda.
As pesquisas de audiência de televisão, que registram fielmente o estado de sintonia dos televisores através dos "people-meters", mostraram, em eleições anteriores, o crescimento da audiência dos canais de TV paga nos horários da propaganda eleitoral, uma demonstração de busca de opções ao horário, além da parcela que desliga o aparelho.
A esse comportamento acrescente-se o fato de o televisor estar sintonizado em canal que transmite a propaganda eleitoral mas as pessoas saem do recinto, aguardando a volta da programação normal.
Diante dessa constatação, os beneficiados, que podem tirar melhor proveito, são os candidatos que aparecem no início e no fim de cada programa de propaganda eleitoral.
As pesquisas de opinião revelam que a propaganda tem baixo impacto no eleitor. São poucos os que declaram assistir efetiva e integralmente aos programas. A maioria assiste a eles de vez em quando.
Ao longo dos anos, poucos foram os fenômenos positivos gerados pela propaganda eleitoral. Quando ocorrem, são inseridos na história, como Enéas, em 1989, que, com 15 segundos disponíveis, apesar de à época não ser político de carreira, ficar na 12ª posição entre 22 candidatos à Presidência.
Seu bordão, "Meu nome é Enéas", permanece latente na mente dos brasileiros contemporâneos.
Muitos foram os casos em que o posicionamento dos eleitores nas pesquisas de tendência eleitoral não se alteraram durante toda a campanha, a despeito da propaganda eleitoral.
Ultimamente, a estratégia mais eficaz de propaganda eleitoral, porque surpreende o telespectador/eleitor, são as inserções extras de 30 segundos.
Quem de fato assiste com maior interesse são as pessoas que gostam de discutir política, os militantes e os formadores de opinião, além dos estrategistas de cada candidato, evidentemente.
Ao aproximar-se o dia da eleição, entre as fontes mais utilizadas pelos eleitores na busca da definição do voto, não se encontra a propaganda eleitoral no rádio e na televisão mas, como tradicionalmente ocorre ao longo do tempo, estão os familiares, amigos, vizinhos, associações comunitárias e/ou religiosas e, mais recentemente, o Google.
Essa ferramenta, aliás, é cada vez mais utilizada para levantar a vida pregressa e atual dos possíveis elegíveis, daqueles que postulam o voto.