Por Marcello Beltrand, consultor e mestre em Administração
A Liga de Hera, na costa leste dos EUA, é o berço do politicamente correto. O nome refere a planta trepadeira que cobre universidades cuja arquitetura tem estilo britânico.Originalmente, era nome da liga desportiva que uniu times de universidades desde 1954. Fazem parte Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, University of Pennsylvania, Princeton e Yale. Estudaram nessas escolas Barack e Michele Obama, Meryl Streep e Noam Chomsky. Correndo o risco de comparação grosseira, a Universidade de São Paulo, por exemplo, tem esse DNA.
É indiscutível o avanço social trazido pela luta dos direitos civis, com repercussão em todo mundo. Mas tudo tem rebote. Um dos segmentos abatidos pelo politicamente correto foram os executivos - no público e privado.
Observando organizações nos últimos 10 anos, vê-se o vírus da "crise de execução" se expandindo e cultivando crise de autoridade. Muitos gestores dos poderes Executivo e Legislativo tem receio de decidir, seja em compras, editais ou investimentos - do pontilhão ao lote de lápis de cor. O leitor pode pensar: - isso é bom! Errado. Demonstra a paralisia que o Estado brasileiro vive. Uma das tensões vem da cruel judicialização de litígios.
Executivo de empresa multinacional revelou-me que clientes não aceitam mais receber tickets para shows, ingresso para Fórmula 1 e nem pagamento de almoço. Poderá ser acusado futuramente de facilitar negócio por benefício pretérito. O contexto é mais grave: o nível de diretoria, as vezes temendo sanção do Conselho de Administração, prorroga iniciativas ou faz escolhas simpáticas aos conselheiros, que não vivem o dia-a-dia da empresa. Por outro lado, o conselho agora é imputável, responsável solidário nas ações do Presidente da empresa, o que fecha ciclo perverso do apagão de iniciativas.
Executivo com poder de execução não faz aquilo para o que foi eleito, contratado e pago: decidir e fazer acontecer. Formou-se geração de executivos e executivas eunucos e eunucas. A frase anterior concede ao politicamente correto.