A inauguração da nova orla do Guaíba revela bem mais que uma área nobre de Porto Alegre que vinha sendo subaproveitada pela população. O empreendimento faz recordar a porto-alegrenses e gaúchos o fundamento do serviço público: investir em obras e melhorar a qualidade de vida da população. Mostra também que, acima das disputas partidárias, a manutenção de um bom projeto iniciado em administrações anteriores não deve e não pode parar por vaidades eleitorais que tanto mal causam ao Rio Grande do Sul.
A entrega do primeiro trecho remodelado da área na qual a história do município teve início e que se constitui num de seus cartões-postais contrasta com o estado de penúria no meio urbano, de maneira geral. O aspecto de abandono é o resultado da falência de um modelo de sustentação econômica da gestão pública, que se reflete no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de 2018. Porto Alegre sequer figura entre as 10 capitais mais bem avaliadas no levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Florianópolis, em primeiro lugar, seguida por Curitiba, são destaques na Região Sul, numa lista que inclui também São Paulo, Teresina e Cuiabá na liderança.
Além de devolver a orla do Guaíba à cidade, a inauguração é um marco para tornar Porto Alegre mais atraente ao turismo, que é uma importante fonte de divisas, e menos resistente às mudanças. Permite também mais opções para lazer e esportes. O conservadorismo atávico porto-alegrense, que enxerga máculas em qualquer intervenção no espaço público, tem sido uma das razões das dificuldades de se compartilhar o restante da paisagem do Guaíba com a população. É o que vem ocorrendo também no caso da revitalização do Cais Mauá, entre outras obras importantes para reforçar belezas naturais e devolver o orgulho de se viver na Capital dos gaúchos.
Com a evidência de que Porto Alegre precisa e pode melhorar, traduzida pela nova orla, espera-se que a justa comemoração sirva de estímulo a novos empreendimentos e investidores. Esse é o caminho para fazer um contraponto aos que insistem em manter a cidade prisioneira do passado e de corporações que pensam, antes de tudo, em preservar seus próprios privilégios.