Por José Alberto Wenzel, geólogo e analista ambiental
Estima-se em 62 milhões o número de migrantes e refugiados mundo afora. Número que deixa de ser estatístico ao nos aproximarmos da biografia de cada um dos que buscam oportunidades de sobrevivência. Biografias tem nome, humanizam. Como não lembrar da estratégia hitlerista de desumanização em que as pessoas, particularmente judeus, viraram números, a ponto dos agentes encarregados do massacre nos campos de concentração contabilizarem totalizadores e não nomes?
No Centro Mundial em Memória do Holocausto junto ao Monte da Recordação em Jerusalém encontram-se cartas escritas por agentes nazistas a seus pais, relatando sua satisfação em terem alcançado números crescentes de assassinados nas câmaras de gás, tragicamente conhecidas como "casas de banho". Ao percorrermos as salas do memorial números se transformam em nomes: de adultos, anciões e crianças. Cenas dilacerantes de crianças duramente separadas de seus pais e avós crescem aos olhos que se espremem em angústia incontida.
Uma sala, nutrida de um profundo simbolismo, já ao final da visitação, nos expõe um fosso de águas aprofundadas que espelham identidades conhecidas e a serem reveladas. Observemos que a água, principalmente para os judeus, equivale à vida. Encimando o fosso, uma cúpula, à semelhança de um firmamento estrelado conclama para a esperança, vigorosamente demonstrada pelas paredes prismáticas que se abrem para um cenário onde vicejam ciprestes, outras árvores e uma cidade que se apresenta iluminando possibilidades.
Olhando para o horizonte que se abre, as perguntas se impõe: Onde estava a humanidade durante o massacre dos seis milhões de judeus? O que fazíamos? Como se posicionaram as instituições?
A pergunta se repete agora, 73 anos depois da Segunda Grande Guerra. Não estará se desenhando um novo formato de Holocausto? Qual o nosso grau de comprometimento com a causa dos migrantes? Ou preferimos não ver para não precisar agir? Teremos esquecido que todos somos ou já fomos migrantes também?