Por Michel Gralha, advogado
Há algumas semanas, o governo brasileiro deu enormes sinais de fraqueza e desconhecimento, negociando com o setor específico de fretes, esquecendo dos profundos reflexos que estas ações causariam à economia. Como consequência, na mesma proporção, os cidadãos sentiram os reflexos da greve dos transportes e, agora, os nefastos resultados de medidas equivocadas.
Não adianta. As leis de mercado são soberanas e não se submetem a protecionismos dirigidos ou a regulamentações. E o mais curioso disso tudo é o comportamento da população, tão sofrida com o que está acontecendo. Em meio à crise, inúmeros foram aqueles que apoiaram o movimento, valorizando a greve e dizendo que se tratava de algo importante para o país e para a sociedade. Nitidamente, tentaram transformar um movimento setorizado em algo mais abrangente e nacionalista, mesmo que os pedidos se restringissem a questões objetivas e pontuais de uma categoria. Ora, como pode?! Por que as pessoas tendem a pegar bandeiras dos outros e esquecem de pegar suas próprias bandeiras? Que momento é este que vivemos no qual sequer conseguimos diferenciar anseios coletivos de anseios individuais? Pelo que, efetivamente, estamos lutando? Infelizmente, por muito pouco, e isto representa a nossa triste realidade como sociedade.
Estamos nos acostumando com a precariedade e esquecendo de buscar algo melhor. Basta um grupo movimentar-se para que outras inúmeras pessoas passem a aderir, sem entender muito bem o que isto significa, pelo simples fato de achar que estão lutando por um Brasil melhor. Somos uma sociedade carregada de sentimento de culpa, que olha ao redor e não consegue achar soluções. Movimentamo-nos de forma ineficaz e desordenada. Estamos perdendo nosso senso crítico como nação. Terceirizamos as responsabilidades e pensamos somente nos direitos, deixando nas mãos dos outros nossos destinos. Assim, no futuro próximo, restará uma sociedade ainda mais fraca e esperançosa de um salvador da pátria o que, em épocas de eleição, torna-se ainda mais perigoso e devastador.