Por Thais Zanchettin, jornalista
A cena se repete a cada nova data comemorativa. A corrida de última hora a shoppings para garantir a lembrancinha das Mães, dos Namorados, dos Pais ou a relação que estiver sendo comercializada naquele mês. Comprados às pressas e sem consciência alguma, esses presentes servem apenas para cumprir um protocolo, com grandes chances de não agradar o homenageado. A lógica da rapidez não poupou nem nossas relações mais importantes, nos fazendo viver a era do fast food do afeto.
Padronizamos nossos gestos e palavras para ganhar tempo e reduzir esforços, porém, como na culinária, suprimos apenas a necessidade básica. Aplacamos a fome com uma comida sem gosto, incapaz de criar memórias. Na hora de escrever uma declaração, caímos no clichê, nas generalizações, e, mais recentemente, no uso de emojis e repetições de vogais (te amoooo muuuitoooo), como se o eco ampliasse ou quantificasse o que sentimos. Mas, tão rápido quanto esses presentes ou textos são pensados e executados, eles são esquecidos. O retorno é proporcional ao empenho.
Dificilmente guardamos lembranças de lanches engolidos na mesa de uma praça de alimentação qualquer. Já jantares preparados com cuidado e dedicação conseguem aplacar a fome e perdurar em forma de memórias e sensações. Assim como na refeição, entrega e consciência são os ingredientes para vivermos relações mais afetivas – e não anestesiadas.
Presentar alguém é uma forma de demonstrar carinho e de agradar. Mas deve ser algo genuíno, e não uma imposição como acaba tornando-se nas datas comemorativas. Acho muito mais simpático, e afetivo, um mimo dado em um dia despretensioso, simplesmente comprado porque se lembrou da pessoa ou porque encontrou algo de que ela tanto gosta. O inesperado nos dá a sensação de que nossas relações e emoções nos acompanham diariamente, e não somente a cada dia 12 de junho, 24 de dezembro ou nos segundos domingos de maio ou agosto.
Que essas datas sigam sendo comemoradas e amplamente exploradas pelo comércio, alimentando de certa forma as relações que se satisfazem com um fast food padrão. Mas que aqueles que desejam viver com mais sabor e cuidado possam lembrar que o afeto e amor são um banquete impossível de recusar.