Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
Há poucos dias, assisti a uma entrevista com Marcelo Serpa, um dos publicitários mais premiados no mundo. Dizia: “Com as mídias sociais hoje, a pancadaria come solta. Se você errar um pouco o seu discurso, você vai apanhar muito. Isso não é ruim, mas muitas vezes você vai apanhar de um público que não te interessa e vai ter de ser relevante para um público que te interessa. Mas não pode ter medo da pancadaria... O Brasil passa por uma catarse coletiva. Era uma fossa, e estamos limpando a fossa...”.
Foi uma coincidência ouvi-lo enquanto lia as repercussões da coluna anterior a esta, que escrevi aqui em Zero Hora.
Falava em algumas pessoas que se valem de um pequeno cargo para mostrar que mandam. Não fui muito feliz no exemplo que dei, pois existem situações mais relevantes. Mas foi um bom exercício ouvir pessoas deduzindo coisas a meu respeito, a partir de um simples relato que fiz: palavras como idiota, babaca, espertinho e corrupto, que devo estacionar em vagas de deficientes, que defendo o jeitinho brasileiro, me mandaram calar a boca. A pancadaria foi geral. Surgiram alguns elogios e relatos de situações pessoais parecidas.
Foi importante observar o cuidado que devemos ter com a escolha das palavras. Uma, inadequada, pode levar a uma percepção equivocada do que queremos dizer. Vi também como as pessoas estão cansadas com o que acontece no país e buscam no dia a dia extravasar suas raivas e frustrações, descontando no primeiro que aparecer na internet, no trânsito, nos estádios de futebol. Parece que, ao destilarem seu ódio em alguém, todas as inquietações com trabalho, relações, vida e país estarão resolvidas.
É incrível como o comportamento coletivo estimula a radicalização (há fartos estudos mundiais sobre isso!). Pelos depoimentos que me chegaram, dá para acompanhar o crescimento da radicalização. A partir de qualquer fato, deduzem, julgam, condenam, insultam. Penso que debater ideias, fazer contrapontos, ler e ouvir opiniões divergentes nos faz crescer, melhorar o que pensamos. Nem sempre a nossa é a melhor versão dos fatos. Mas devemos usar argumentos sem desqualificar as pessoas. Especialmente na internet, onde alguns acham que podem tudo (há poucos dias, escrevi uma coluna sobre um estudo mundial que mostra que a internet está doente).
Uma das melhores coisas que vi ultimamente a respeito do ódio na internet foi um desenho no qual aparecia um homem bem pequeno insultando um cara enorme. Este pega o insultador pelo pescoço e diz: “O que estás querendo?” E o franzino responde: “Bah, eu não me dei conta de que estava fora da internet”!