Por Franklin Cunha, médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras
Quando Ludwig Wittgenstein, afirma que "sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar" pode ser uma afirmação enigmática como nela podem caber várias interpretações. Uma delas é: não se pode ter certeza de que as palavras exprimem exatamente o que pensamos. Ou de como nossos interlocutores as entendem. Assim ele questiona a coerência e a consistência de nossos pensamentos e se, pelo fato de falarmos através de uma linguagem simbólica na qual se baseiam nossas crenças, conscientemente compartilhamos com o pacto social básico de nossa contingência.
Enfim, o que o nebuloso filósofo austríaco parece dizer é que nossas crenças, julgamentos, ideologias só têm sentido dentro de um contexto no qual as pessoas podem se relacionar entre si e com o mundo. Mas para tal, ele conceitua e estabelece as diferenças entre certezas subjetivas e objetivas. As primeiras estão sujeitas a dúvidas, porque nelas se aplicam os critérios usuais de verdade e de falsidade, de conhecimento e de ignorância. As certezas objetivas, pelo contrário, não se submetem a dúvidas. Se questionadas subverteriam os conceitos básicos que desde sempre aceitamos e reconhecemos dentro de nosso estilo de vida. E é isso que em linguagem psicanalítica é definido como perda da realidade fática. E quem a perde e adota atitudes de incredibilidade total e permanente é dominado por um comportamento dito psicótico.
Porém Wittgenstein foi um gênio que brilhantemente superou muitos pontos obscuros da linguística e da filosofia. Numa violenta discussão com Bertrand Russel, este vendo-o muito agitado, disse-lhe que tomasse cuidado porque corria o perigo de perder a sanidade, ao que Wittt respondeu: "Deus me proteja da sanidade". Mas aos gênios e aos poetas, certo grau de insanidade pode ser compreendida e tolerada. A outros, não. "A loucura nos poderosos deve ser vigiada", já dizia o bardo inglês em suas tragédias.